
Uma expressão que me incomoda, quando se fala em cultura, arte ou mesmo entretenimento, é a palavra “alternativo”. Trata-se de mera bobeira paranoica da minha mente, por certo, mas me sinto internamente desconfortável quando alguém diz que determinado filme é “alternativo”, que certa música é “alternativa”, que tal livro é “alternativo”. Isso porque a palavra “alternativo” pressupõe a existência de um padrão (um parâmetro a ser seguido) e a de um caminho diferente, mas solitário, quase incomunicável: uma passagem estreita que é a única rota de fuga para os excluídos e marginalizados (e para os “diferentões”, é claro...). Quando não, revela um quê de arrogância e desdém por tudo aquilo que não se acomoda sob o rótulo genérico de “alternativo”, que é conceito essencialmente subjetivo e impreciso. E essa arrogância desdenhosa, por sua vez, atrapalha justamente no livre desenvolvimento das artes, no nascimento de novas formas de expressão, na gênese e na apreciação indiscriminada de culturas múltiplas, alternativas (no plural!). Falar em algo “alternativo” sugere uma divisão bipolar avessa à liberdade que as pessoas que gostam da arte dita “alternativa” alegam perseguir: guerreando às cegas contra o sistema, reforçamos o próprio sistema! (Somos grandes ingênuos neste mundo contra-intuitivo, não?).