
Tomar a ficção como uma forma de
representar a realidade, dela destacando as cores e contornos que mais
interessam ao ficcionista, é uma interpretação válida e sensata. Outro ponto de
vista relevante – dentre todos os inúmeros possíveis – é
aquele que nos faz enxergar a ficção como uma fuga voluntária da realidade (a
“suspensão da descrença”, na feliz definição de Coleridge). Por uma perspectiva
ou pela outra, ou mesmo nas misturas que podem existir entre elas, a concepção
de que filmes, livros e jogos de terror fazem mal às pessoas (em especial às
crianças) é um equívoco que até hoje trouxe mais prejuízos do que benefícios
àqueles que, ainda que com boa intenção, tentaram censurar obras violentas e perturbadoras.