Em 99% (ou mais) das listas sobre como escrever histórias de terror de qualidade, a pessoa que dá as sugestões se limita a elencar dicas técnicas de escrita e a reproduzir mensagens motivacionais sobre esforço, trabalho e perseverança, transmitindo ensinamentos úteis, mas que servem tanto para se escrever aterrorizantes histórias sobre assassinos carniceiros quanto para se criar contos de fadas com duendes abobalhados e gnomos sorridentes (o que, pensando bem, também pode ser bastante perturbador, mas isso não vem ao caso agora).
O que quero dizer, em síntese, é que essas listas costumam ser mais sobre carreiras e técnicas literárias do que sobre a criação do terror propriamente dito.
O que quero dizer, em síntese, é que essas listas costumam ser mais sobre carreiras e técnicas literárias do que sobre a criação do terror propriamente dito.
Embora tenham imensa importância prática e não devam ser menosprezados, textos como "os dez passos para alcançar o sucesso na literatura de horror" ou "aprenda a escrever um livro de terror" são generalizantes demais e se esquecem de mencionar os aspectos mais essenciais para a criação da genuína ficção macabra. Em razão dessa grave lacuna, decidi revelar alguns segredos obscuros, em caráter exclusivo para escritores de horror em potencial, sugerindo algumas das mais eficientes práticas criativas que um autor pode assumir para escrever sobre o objeto máximo de suas paixões: o medo.
OS DEZ SEGREDOS PARA SE CRIAR UMA BOA HISTÓRIA DE TERROR
Por Melvin Menoviks
I – Faça longos passeios noturnos
por lugares frios e solitários, onde o Espírito da Noite perambula mais
livremente para ser evocado;
II – Visite cemitérios e vilarejos-fantasmas
à noite com certa frequência. Sinta e perceba, com toda a atenção que restar em
sua mente fragilizada pelas influências nefandas do lugar escolhido, os estranhos
movimentos do lusco-fusco ao seu redor, onde sombras e luzes paradoxais são fantasmagoricamente
incitadas por atividades espectrais não-explicáveis;
III – Sem reservas, abra sua alma para
os mistérios arcanos que só a noite, as trevas, as névoas e as penumbras
conhecem;
IV – Preferencialmente em locais
lodosos e gotejantes, acenda fogueiras e tochas e contemple como as labaredas tremulam de maneiras esquisitas e incompreensíveis, como se em oblações
luminosas para deuses há muito esquecidos pela humanidade, mas que
ardilosamente sobrevivem nos covis tenebrosos de nossa memória coletiva, em nível
subconsciente, dentro das lendas e fábulas mais terríveis, alimentando-se pouco
a pouco de nossos medos, fobias e pavores;
V – Nas madrugadas de ventania
intensa, fique atento ao farfalhar sinistro das folhas das árvores e aos galhos,
parcialmente ocultos pelas sombras de origem ignota, que balançam como garras
de bruxas prontas para rasgar carne inocente e espalhar sangue em oferendas
ritualísticas para entidades que não devem ser nomeadas;
VI – Nessas mesmas madrugadas, ouça
o uivo medonho que se espalha pelo horizonte vindo de lugar nenhum e,
concentrando-se nos sons ululantes dos gemidos dolorosos, imagine todas as aberrações hediondas que podem estar vagueando pelas ruas quase desertas da cidade escura e pelos
bosques insondáveis que a circundam, sem que ninguém saiba ou imagine;
VII – Ainda nessas madrugadas, apague
as luzes e utilize toda a sua imaginação para visualizar, com o perverso olho
da mente, o que pode estar atrás de você, bem perto das suas costas, espreitando no
escuro e aguardando, apenas aguardando, com olhos fixos na sua nuca e um
sorriso maquiavelicamente faminto no rosto, aproximando-se bem lentamente, mas cada
vez mais e mais perto;
VIII – Com apenas uma vela acesa ao
seu lado e de costas para um longo corredor, olhe estaticamente, através do
espelho, para a impenetrável escuridão que há atrás de você, nunca se esquecendo
de que espelhos costumam refletir mais do que uma única realidade e que criancinhas mortas, pálidas, deformadas e apenas um pouco
maiores do que bonecas gostam de brincar perto deles, com suas risadinhas
ecoantes, olhos esbugalhados e dentinhos sujos de sangue e carne de túmulos profanados. Você perceberá
quando a magia acontecer, pode acreditar;
IX – Leia Edgar Allan Poe e H. P. Lovecraft;
X – Trabalhe o máximo que puder
para transmitir em palavras, com ritmo sedutor e vocabulário elegante – ou da
forma que sua intuição lhe disser que seja a mais eficaz –, tudo aquilo que
você criou dentro de si com essas inesquecíveis experiências transcendentais.
Boa sorte, amiguinhos!
Olá!
ResponderExcluirEstou aqui pela maldição CursedBlog, que foi repassada a você pelo Leitor Noturno.
Curti o conteúdo daqui, estou seguindo. :)
Mago e Vidro
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Curti a matéria
ExcluirFico feliz que tenha gostado, Tisa. Foi uma ótima iniciativa a criação da corrente CursedBlog! Está de parabéns!
ExcluirTive uma identificação sinistra com as "oblações das labaredas"! o_O
ResponderExcluirQuero saber os pormenores disso depois O.O
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