segunda-feira, 15 de agosto de 2016

Sugestão de filme: O SANATÓRIO CLEPSIDRA


Alguns filmes conseguem representar sonhos e delírios de formas magníficas ("Cisne Negro", "A Origem", "Donnie Darko", por exemplo). Pouquíssimos conseguem ser delírios de verdade.

Um exemplo perfeito de delírio em forma de longa-metragem é "O Sanatório Clepsidra" ("Sanatorium pod Klepsydra"), filme surrealista polonês de 1973, dirigido por Wojciech Has, que é uma genuína obra-prima esquecida da sétima arte.

No filme – que tem mais relação com o mundo dos dos sonhos do que com o da racionalidade (se é que há espaço para racionalidade em algum momento!) – o protagonista Józef viaja a uma cidade distante para visitar o pai, que está internado em um sanatório, à beira da morte. Lá, ele percebe que o tempo não flui de modo normal, que os ambientes mudam constantemente e que passado e presente se entrelaçam de maneiras absurdas.


Belamente construído com o refinamento artístico de um quadro renascentista (e isso com uma técnica cinematográfica que mesmo nos dias de hoje raramente é igualada), o filme todo é um fluxo onírico contínuo, de uma só vez extravagante e nebuloso, belo e esquisito, colorido e opressivo, fantástico e fantasmagórico, vívido e irreal... A trilha sonora é mística, misteriosa, indutora de transes e devaneios. Os personagens são estrambóticos, incompreensíveis, e vagueiam pela tela como fantasmas de tempos remotos, surgindo e desaparecendo sem motivo aparente. Os cenários – cada um deles! – poderia ser uma pintura surrealista digna de Dali, de tão extraordinários e ricos em detalhes. E pela atmosfera das cenas sempre paira uma carga esotérica de pesadelo, de fantasia, de poesia e loucura.

Embora não tenha nenhuma trama discernível e não possa ser compreendido pela razão, "O Sanatório Clepsidra" é um dos melhores filmes que já vi. Apesar de ser um caleidoscópio de imagens, sons e sensações bizarras, quase perturbadoras, o filme flui de forma estranhamente leve, como um fio de água escorrendo, como uma nuvem se dissipando, como uma ilusão se criando e se perdendo nas idas e vindas da consciência...


Em resumo: uma obra de arte excêntrica, para amar ou odiar!

Obs.: conheci essa pérola cinematográfica por meio de um comentário que o Camilo Prado (grande escritor e editor da Nephelibata) fez na publicação "15 injustiçados", aqui do blog. Muitíssimo obrigado, Camilo!

Obs.2: "O Sanatório Clepsidra" é bastante difícil de ser encontrado na internet, mesmo em sites especializados em filmes raros. Se alguém tiver interesse em assistir a ele e não quiser perder tempo procurando, envie-me uma mensagem pelo facebook que eu disponibilizo o torrent para download, em alta definição (tendo em vista que o filme não está disponível em dvd ou blu-ray no Brasil, não há maneira mais lícita...).

2 comentários:

  1. Caro Menoviks, um perfeito resumo! deu-me vontade de rever o filme (que já vi três vezes)... E o "Malpertuis", já viu? Merece ser sugerido aqui também. Abraços.

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    1. Esse Sanatório Clepsidra é um filme realmente singular, Camilo! Provavelmente foi sua melhor recomendação até agora (e olha que estou ouvindo Décima Víctima com uma boa frequência!). Fica até difícil de imaginar como alguém conseguiu fazer um filme como esse, que, ao mesmo tempo, consegue ser tão esquisito (por que não dizer "anti-popular"?) e ser feito com uma técnica de qualidade tão impecável, superior a boa parte das produções grandiosas da época.

      O Malpertuis eu comecei a ver uma fez, mas faz bastante tempo, e, por algum motivo que me escapa da memória, não cheguei até o final. Na época eu não estava gostando muito, mas eu era muito novo e não estava "no clima" para esse tipo de filme, naquele dia. Vou procurar assistir assim que sobrar um tempinho, aí te falo o que achei.

      Não deixe de ir dando mais sugestões, elas são sempre muito bem-vindas. Aliás, me avise assim que estiverem disponíveis para a venda os livros que estão no prelo da Nephelibata. Estou interessado em praticamente todos eles (ai meu bolso!).

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