terça-feira, 30 de junho de 2015

Resenha em vídeo: A ESTRADA DA NOITE, de Joe Hill

Com pouco menos de um mês desde a primeira postagem por aqui, este obscuro blog de Melvin Menoviks, para o prazer do leitor e para minha própria satisfação, conquistou uma adorável parceria que certamente irá enriquecer, e muito, estas páginas sombrias.

Com grande entusiasmo e alegria, anuncio a parceria entre Melvin Menoviks e a talentosa Mariana Mortari, criadora do canal no youtube Chá de Prosa e do blog de mesmo nome! \m/_

Para quem ainda não conhece, Chá de Prosa é um canal bem bacana destinado a dar dicas de leitura e a fazer resenhas de livros de suspense, mistério, ficção científica e, é claro, de terror. Os vídeos do canal, apresentados pela simpática Mariana Mortari (que, assim como eu, é uma grande fã da boa literatura macabra), são dinâmicos e descontraídos, com muito conteúdo de qualidade e aquilo que mais importa: transbordante amor pelos livros e pelas mais sinistras ficções.

Portanto, para inaugurar a parceria, divulgo a excelente resenha em vídeo que a Mariana fez sobre A Estrada da Noite, do Joe Hill.


A Estrada da Noite é um livro interessante e assustador, com personagens bem construídos e uma trama que, apesar de simples, cumpre seu papel em cativar o leitor com o bom e velho medo do sobrenatural. Além disso, trata-se do primeiro livro publicado pelo filho do Stephen King (o qual dispensa quaisquer apresentações e cujo nome é tão sinônimo de "terror" quanto "Hitchcock" é de "suspense").

Mas deixemos que a própria Mariana nos conte um pouco mais sobre esse competente livro do Joe Hill.

Obs.: vídeo sem spoilers.

Para ler a resenha escrita que a Mariana fez do livro, visite o blog dela clicando aqui.
***
Comentário meu: pessoalmente, considero A Estrada da Noite um livro bom e divertido – mas não muito mais do que isso. Joe Hill escreve bem e tem um estilo bastante parecido com o do pai (o que é legal, de certa forma), mas as surpresas no desenvolvimento da trama, a criatividade nas "brincadeiras" e jogos linguísticos, a intensidade das imagens criadas no decorrer da história e o aprofundamento no terror e na psicologia de seus personagens são um pouco mais limitados. No entanto, tudo isso é facilmente perdoável, já que se trata do romance de estreia do jovem Hill – e, no fim das contas, não atrapalha de modo tão significativo o prazer da leitura. Além do mais, nunca é muito justo querer comparar algum escritor com um monstro como o mestre King, não é mesmo?

E você, já leu A Estrada da Noite? O que achou do livro? Não deixe de comentar! Se ainda não leu, fica a sugestão para as noites chuvosas.
Outros títulos do mesmo autor são "O Pacto" e "Nosferatu". Ambos aparentam ser muito promissores, mas, infelizmente, ainda não tive tempo de ler nenhum deles. De qualquer forma, logo, logo eles estarão na minha estante, aguardando para jorrar seus mistérios e terrores em mim como o sangue de uma garganta lacerada sendo esguichado em direção à boca ávida de um vampiro cruel.

quinta-feira, 25 de junho de 2015

MÚSICA – The one with horns

Quando as ocasiões permitem, venho gravando algumas músicas com o meu amigo Murilo Toffanelli.

Com letras baseadas em nossas leituras insanas e em filmes esquisitos, compomos músicas usando apenas um violão velho e um decadente gravador de celular. É um projeto simples, mas divertido ao extremo, e que, à nossa maneira despretensiosa, vem rendendo algumas músicas bem legais, com ritmos de blues, psychobilly, country, horror punk, rock and roll e até heavy metal. \m/_

A primeira música que gravamos juntos foi a misteriosa The one with horns, que é sobre um homem que, em uma noite sinistra, avista uma criatura não-humana que o leva a conhecer seu "Mestre". Confiram! \m/_

Letra por Melvin Menoviks
Música por Murilo Toffanelli

terça-feira, 23 de junho de 2015

AS DELÍCIAS DO TERROR E AS TREVAS DO CORAÇÃO

Tendo em vista o conteúdo forte, violento, chocante e perturbador de alguns de meus contos reunidos no livro “A Caixa de Natasha e outras histórias de horror”, bem como o atordoante impacto que eles vêm causando em leitores menos acostumados a esse intenso gênero de literatura, senti-me na obrigação de dar algumas palavras explicativas a respeito do assunto para esclarecer dúvidas e elidir apreensões criadas nas mentes daqueles que temem pela minha sanidade mental e por suas próprias seguranças.

Em primeiro lugar, eu não sou meus personagens. Mesmo naqueles contos escritos em primeira pessoa em que o narrador, atormentado e problemático, não revela seu nome, certamente ele não é o mesmo sujeito que este que lhes escreve. Isso pode parecer extremamente óbvio para quase todo mundo, mas existem pessoas que sentem uma enorme dificuldade em assimilar esse princípio básico da criação literária, mesmo quando dizem para si mesmas que o compreendem plenamente. Isso ocorre porque não estamos falando de compreensão racional, mas de sentimentos dos quais somos totalmente inconscientes: trata-se de algo muito semelhante ao que acontece com fãs de novelas televisivas que alegam assistir aos episódios diários apenas para se divertir, mas que saem xingando e agredindo fisicamente o ator que interpreta o vilão assim que o veem na rua.

Essa confusão é algo natural no ser humano e faz parte da magia da ficção, mas deve ser muito bem compreendida para não resultar em tragédias irreversíveis, embora facilmente evitáveis, que, por isso mesmo, são tão lamentáveis. Os personagens – e mesmo os narradores – são “máscaras e fantoches” que o autor usa para expressar algo, para criar um pensamento no leitor ou simplesmente para poder contar uma boa história.

Dito isso, ainda resta a seguinte dúvida: será que não existem casos em que o narrador/personagem é tão semelhante ao autor, em história de vida e em pensamentos, que essa linha divisória entre um e outro vai ficando cada vez mais turva e esvaecida, a ponto de desaparecer ou ficar absolutamente indistinguível? E a resposta não poderia ser outra: é claro que há! No entanto, mesmo nesses casos incomuns, narradores e personagens são narradores e personagens. O autor é só uma força que lhes dá vida. Contudo, podemos brincar com isso. Manipular expectativas e jogar com emoções. E essa é uma das graças da ficção e da imaginação: nós deixamos a ilusão nos guiar.

Agora, aqui entre nós, tenho um segredinho sujo para compartilhar com vocês: o que vocês diriam se, ao contrário do que eu disse ali em cima, eu revelasse que, na verdade, TODOS os meus personagens – mesmo aqueles mais abomináveis e perturbados – são, em essência, eu mesmo? Vocês ficariam espantados? Chocados? Pois essa é a verdade. Acalme-se, acalme-se: até o fim do texto você vai entender o que quero dizer e vai ver que eu não sou um maníaco psicopata sedento por sangue, vísceras e corpos desmembrados.

Apesar de não fazer disso uma regra, acredito que toda a ficção que crio é uma forma de explorar e simbolizar eus-interiores e sensações inomináveis que existem dentro de mim para que eu me conheça melhor e possa expandir minha personalidade de uma forma mais consciente e sustentável. Escrever é, em síntese, uma forma de auto-descoberta e, consequentemente, de descoberta do mundo e do que há além do mundo. É uma exploração psíquica, intelectual, emocional e sensitiva. É nadar em mares profundos, captando manifestações sensoriais de toda sorte e organizando-as em palavras inteligíveis, sedutoras, para o leitor.

Mas, então, por que escolhi justamente o terror para essa viagem constante em minha vida? Por que decidi me valer de imagens e sensações aterrorizantes para guiar a interminável caminhada de fantasia e realidade que constitui a criação literária?

Essa pergunta me leva a pensar sobre o próprio motivo da existência da ficção de horror e sobre a importância das metáforas assustadoras não apenas no interior do texto, mas do próprio texto como uma metáfora para algo maior.

Ora, por que alguém vai querer ler a respeito da desgraça do outro, conhecendo tormentos assombrosos e dores profundas em detalhes minuciosos? Por que a penúria humana, na literatura, tem tanto impacto e representatividade? Qual é o valor disso nas letras e nas artes em geral? Pois é aí que está a chave do mistério, meu caro leitor, que muitas pessoas não sabem reconhecer. Encontrá-la é descobrir um mundo novo e cheio de oportunidades maravilhosas.

Antes de pensamentos mais aprofundados concernentes ao tema, é importante que tenhamos em mente a seguinte proposição, da qual nenhum psicanalista jamais ousaria discordar: a violência faz parte do ser humano e é uma de suas necessidades básicas, assim como comer, respirar e amar. Dessa forma, é melhor que toda essa violência seja exercida no terreno seguro da ficção, em livros, filmes e video-games, do que na delicada organicidade da realidade, onde as consequências são severas e implacáveis.

Mais do que isso, a ficção de terror/horror, além de servir como entretenimento e fuga da realidade que mexe com nossos nervos e faz com que nos sintamos mais vivos, como verdadeiro deleite animal similar àquele que experimentamos ao morder um suculento pedaço de carne, tem um papel fundamental em nosso aprendizado, que é o de confrontar o ser humano com seus medos, traumas e, principalmente, com todo o mal que há dentro dele, esperando para sair da forma mais desastrosa possível. Eu realmente tenho a séria convicção de que é só conhecendo a podridão e a fraqueza que há dentro de nós que conseguimos nos libertar delas ou, pelo menos, conviver com elas, aceitando-as e evitando que elas nos dominem.

Quem assiste a O Exorcista pode ver apenas um show de horrores com uma menina possuída que vomita coisas verdes e roda a cabeça 360 graus. Mas, com um pouco mais de perspicácia, também pode encontrar a eterna luta entre o bem e o mal simbolizando uma família sendo assolada por uma doença inexplicável, pela tensão conflituosa entre parentes e até mesmo pelas mudanças e instabilidades da pré-adolescência.
Mais do que encontrar finais felizes que nos deixem com a mente mais tranquila e relaxada, devemos saber olhar para nossas trevas internas e para nossa ignorância, que é infinita, para não permitir que elas nos devorem sem que percebamos e nos transformem nos monstros que tanto abominamos. Como costumo repetir com frequência, “os verdadeiros monstros não nos matam e aniquilam – eles se camuflam e, sorrateiramente, nos transformam em monstros como eles”. Ou será que você realmente acha que alguém pratica o mal deliberadamente, porque quer fazer o mal e pode escolher fazer o bem, sabendo o que é o bem? Não estou dizendo que a maldade é, sempre, a ausência de livre-arbítrio – só estou dizendo que o “diabo” (ou seja, nós mesmos) é insidioso o suficiente para nos fazer acreditar que é prazeroso fazer o mal e que ele não será revertido contra nós próprios, de uma forma ou de outra.

Apesar das aparências, não estou querendo ser um moralista. Na verdade, passo muito longe disso, e considero até que sou uma das pessoas mais amorais que existem. A moral pode ser uma limitação perigosa, asquerosamente hipócrita e preconceituosa, e há inúmeras questões em que conceitos como “bem” e “mal” simplesmente não são aplicáveis. Mas, de vez em quando, precisamos colocar as coisas nesses termos para que sejamos capazes de entender algumas “verdades” com maior facilidade.

Sabendo desses meus pontos de vista, fica mais fácil compreender por que algumas de minhas histórias são tão chocantes para muitas pessoas. Por isso mesmo, não escondo que muitas delas podem perturbar o leitor de uma forma íntima e dilacerante – traumática, até –, mas garanto que essa não é a minha intenção fundamental. Minha intenção é sempre divertir o leitor com imaginação macabra e, quando possível, mostrar-lhe, por meio de símbolos e alegorias, verdades que de outra forma nunca seriam expostas.

Alguns de meus contos são simples diversões despretensiosas, mas muitos deles são fábulas sobre nossa alma. Por exemplo: boa parte dos contos fala, simbolicamente, sobre a autodestruição e a maneira obsessiva com que as pessoas a procuram sem se dar conta disso, acreditando que o que fazem é o propósito de suas vidas, e não a eliminação delas. Quantas vezes não vemos alguém que amamos se afundando por contra própria em uma areia movediça da qual logo não haverá mais escapatória? Quantas vezes não vemos pessoas adoradas cavando a própria cova sem que possamos fazer qualquer coisa para salvá-las? O nome do que espero estar fazendo na minha ficção é “profilaxia”. Procure no dicionário. Vale a pena.

A verdade é que, quando nos perdemos de nós mesmos, procuramos nos destruir, pois já não nos reconhecemos mais no espelho de nossa própria mente, e o reflexo que vemos nos causa asco. É por isso que uma pessoa que tem medo de altura, se chegar a níveis extremos de dor e desespero, fatalmente se jogará de um precipício. Quem tinha medo de objetos cortantes, flagela-se com o estilete mais afiado que vê pela frente, alucinando-se com o débil prazer que acompanha a dor. No dia-a-dia, “pulamos do precipício” e “nos flagelamos” de formas muito mais sutis, só que perigosíssimas. Comemos sem parar para afastar o vazio na alma quando sabemos que estamos obesos. Entregamo-nos resignadamente à preguiça do sofá ao invés de nos divertir ou nos exercitar, porque a diversão parece só existir para os outros e os exercícios nos parecem demorados e inúteis demais. Jogamos e apostamos mais do que temos, como um substituto pobre para os objetivos genuínos que devem fazer parte de nossa rotina. Bebemos, fumamos e usamos medicamentos e drogas para acender a adrenalina que já não encontramos mais em outros lugares ou para acalmar nossos nervos, dos quais já não temos mais controle. Todos esses comportamentos são válvulas de escape aparentemente inofensivas, mas também são suicídios em parcelas. É como tomar veneno com um conta-gotas.

Mudanças também costumam ser dolorosas, mesmo quando vêm para o nosso bem. É difícil lidar com elas. Temos de deixar para trás muita coisa e conviver com novidades desconhecidas que nos amedrontam. Mas essa é a única forma que temos de continuar vivendo e sendo nós mesmos, evoluindo para não morrer. O Desconhecido nos assusta e nos fascina de modos estranhos. É a condição primordial para a existência.

A ficção de terror, nesse contexto, serve como um alerta para sabermos olhar para o que há em nosso interior. No escuro da nossa alma, vagueando sem rumo nas trevas do nosso coração, há criaturas grotescas feitas de ódio, raiva, dores, frustrações, arrependimentos, traumas, vergonhas, preconceitos, humilhações e perspectivas nunca alcançadas. Temos de encontrar esses monstros asquerosos e pegá-los no colo para afagá-los, dar-lhes carinho e uma mão amiga cheia de compreensão que faça com que eles não cresçam e se tornem maiores do que nós mesmos. Temos de aconchegá-los em nosso peito com redenção verdadeira, colocá-los juntos de nosso lado bom e transformá-los em superação e aprendizagem. Eles não vão desaparecer, mas serão domesticados. E podem até se tornar nossos amigos.

O terror pode não nos dar alívio imediato, mas ele é capaz de nos mostrar onde está o problema e de encontrar um caminho iluminado de ida e volta em meio à escuridão – basta termos a coragem e a força necessárias para percorrê-los.

E quem disse que não podemos enfeitar esse caminho com muita imaginação e fazer dele um lugar sinistramente agradável para caminhar?

E também podemos usar a ficção de horror para extravasar toda a violência e crueldade que há dentro da gente sem pôr em risco a vida de ninguém! É mais seguro do que tirar rachas bêbado ou arranjar brigas em bares. Ou torturar alguém até a morte com uma machadinha... ;)
Nós não seríamos capazes de fazer mal nem a uma mosca, não é verdade?

segunda-feira, 22 de junho de 2015

POEMA – Noite

NOITE


Meu cérebro e meus sentidos só funcionam corretamente na escuridão.
Não consigo pensar direito quando não estou na solidão.
A vida só tem sentido quando divago sozinho em minha pequena e obscura alcova;
Não sendo assim, encontrarei paz novamente apenas na imobilidade perpétua da cova.

Sou um ser notívago por excelência e natureza,
E em nenhum outro horário, que não o das trevas, enxergo verdadeira beleza.
Nas madrugadas sombrias, sonho de olhos abertos com morcegos e assombrosas colinas;
De dia, para afastar o luminoso inimigo, tranco as portas e fecho seguramente as escuras cortinas.

As luzes atrapalham minha mente;
O sol me desconcerta.
Tenho ataques nervosos quando a aurora surge de repente,
Enerva-me o crepúsculo que não se impõe na hora certa.

Detesto o brilho da tarde;
Irrita-me o sol do meio-dia.
Nesses momentos odiosos, meu cérebro queima e arde.
E, não fosse a certeza da noite vindoura, em completo desespero minha mente cairia.

Apavoro-me alucinantemente com a claridade que vem do leste.
Existo somente para os mistérios entre o pôr e o nascer do maldito astro celeste.
Sou avesso ao que é claro e mundano; amigo das soturnas coisas ignotas.
E, quando caminho, vagueio apenas pelas escarpas mais tenebrosas e remotas.

Sou Nosferatu, Drácula, Mefistófeles: Filho das Trevas.
Mas meu verdadeiro nome permanece para sempre desconhecido.
Durmo de dia, ignorando o repulsivo brilho verdejante das relvas.
Acordo postumamente para a lua; para as sombras, completamente renascido.
Imagem do filme Nosferatu  O Vampiro da Noite (Nosferatu: Phantom der Nacht, 1979).

LANÇAMENTO DO LIVRO "A CAIXA DE NATASHA E OUTRAS HISTÓRIAS DE HORROR"

Como já confirmei em evento no facebook e no meu perfil pessoal, a tarde de lançamento do livro "A Caixa de Natasha e outras histórias de horror" será na Livraria Curitiba do Shopping Catuaí, em Londrina-PR, às 16 horas do dia 11 de julho deste ano (um sábado). Será um evento bem legal e descontraído, com exposição e venda dos livros, em que comentarei sobre meu trabalho e, para quem quiser, darei autógrafos e marcadores de páginas.

Portanto, convido todas as pessoas que puderem comparecer a dar um pulinho lá. Ficarei extremamente feliz em poder compartilhar esse momento de grande importância na minha vida com as pessoas que tanto vêm me apoiando e confiando em mim em minha caminhada. Sem vocês, nada disso teria qualquer significado.

Convide seus amigos e familiares e venha se assustar com o lançamento do primeiro livro de Melvin Menoviks!

E, se quiser saber quais os segredos sórdidos que se escondem dentro da terrível Caixa de Natasha antes de todo mundo, curta a página no facebook e mande um inbox para o autor para adquirir o livro por um preço especial!

Nas livrarias, o livro estará por R$39,90, mas, diretamente comigo, o preço é de apenas R$29,90 + frete grátis! Não perca essa oportunidade!

Você terá coragem para desvendar os mistérios de "A Caixa de Natasha"?

terça-feira, 16 de junho de 2015

OS DESAFIOS DE SER ESCRITOR – Introdução e primeira parte

INTRODUÇÃO


Esta seção do blog, intitulada de “Os desafios de ser escritor”, é dedicada a todos os escritores iniciantes que, assim como eu, são pirados o suficientes para pretender construir uma carreira literária em um país de proporções continentais que tem menos livrarias do que a cidade de Buenos Aires sozinha. Além de para esses insanos sonhadores que fazem parte de um dos mais belos batalhões do mundo, as palavras que aqui escreverei também serão destinadas a todas as pessoas que queiram conhecer um pouco mais desse doce, árduo e maravilhoso trabalho que é a criação de sonhos e emoções por meio da palavra escrita.

Assim sendo, para os aspirantes a escritor, para os escritores já estabelecidos que queiram comparar experiências, impressões e perspectivas sobre o mercado editorial, para todos os adoráveis curiosos ávidos por explorar a fundo o fascinante mundo da literatura contemporânea, viva e em construção, e mesmo para o leitor ocasional que queira apenas um bom texto para se divertir, farei confissões e comentários reflexivos (mas não entediantes ou pretensamente filosóficos) a respeito de todos os principais aspectos da vida de um escritor e dos desafios que este encontra desde o primeiro esboço de ideais até para além da comercialização de sua obra – sem deixar de lado a escrita propriamente dita, as intermináveis etapas de revisão, o estudo necessário para uma boa construção narrativa, a relação com editoras, público, amigos, críticos e engraçadinhos arrogantes que desrespeitam seu trabalho, a energia para não desanimar frente às próprias limitações e a força necessária para lidar com as inevitáveis angústias e sentimentos conflitantes que surgem nesse processo todo, o qual é cheio de adversidades e tormentos internos.

Para realizar essa tarefa complexa – que, na verdade, não passa de um ponto de vista pessoal a ser debatido e amadurecido –, pretendo relatar algumas de minhas experiências mais interessantes e significativas (muitas delas engraçadas, se vistas agora), mas também vou me basear em comparações que fiz com outros escritores e em leituras de autores famosos que já realizei sobre o assunto. Comprovarei, por fim, com fatos surpreendentemente reais, que existem muito mais problemas e desafios para que um livro chegue prontinho às mãos do leitor do que qualquer pessoa de fora possa imaginar (o caminho é realmente impressionante, permeado de altos e baixos!). Para completar, ao longo dos textos darei dicas sobre como sobreviver sendo um escritor e sobre como conviver com as pessoas que o cercam (a título de exemplo, posso dizer que há quem ache que, sendo um escritor, você automaticamente conseguirá fama e rios de dinheiro; outras pessoas pensam que você vai enlouquecer e morrer de fome – se já não é um louco varrido e faminto).

Sem mais delongas, segure-se firme na cadeira e prepare-se para histórias reais sobre escritores que são mais inimagináveis do que a própria ficção que eles escrevem.

Boa leitura! ;)


PARTE 1 – Primeiros passos

Stephen King escreveu, no segundo prefácio de seu clássico “Sobre a Escrita”, que “a maioria das obras sobre a escrita está cheia de baboseiras” – e isso é essencialmente verdade. Um bom escritor deve gastar seu tempo criando, e não falando sobre como ele faz isso (mesmo porque ele quase nunca sabe realmente como ele faz isso). No entanto, esse monte de “baboseira” parece atrair a atenção de muitos leitores, mexendo com seus imaginários e cativando-os em níveis muito íntimos (falar sobre a escrita é pegar o leitor de jeito por onde ele é mais vulnerável: a imaginação. E você ainda está lendo esta baboseira, não está?).

Em verdade, mesmo quando a análise é realmente um blábláblá interminável para boi dormir, ela acaba servindo para alguma coisa – ainda que seja apenas para mostrar como esse negócio de escrever é ardilosamente viciante e exige prática constante, dedicação permanente e muito trabalho duro, mesmo quando nada parece fazer sentido e todos os esforços parecem inúteis (aliás, o que de importante na vida não é assim?).

Além disso, é fato incontestável que não existe ninguém pior para escrever sobre a criação literária do que um escritor iniciante, principalmente quando esse escritor iniciante se dedica a um dos gêneros mais subvalorizados na literatura séria (o terror) e mora em um país em que a grande maioria das pessoas não dá a mínima para livros – e se importa ainda menos com aqueles que os escrevem. Tendo tudo isso em mente, é fácil perceber que eu só posso ter alguns parafusos a menos na cabeça para levar a cabo essa ideia de falar sobre a escrita ficcional em uma página de internet. É como pedir para não ter mais acessos no blog!

Mesmo tendo alguns parafusos a menos, é isso que estou fazendo, e espero que vocês se divirtam com isso tudo assim como eu estou me divertindo, ou ainda mais! Para começar, reuni aqui alguns dos trechos mais interessantes de uma conversa que tive com a editora para a divulgação do meu livro “A Caixa de Natasha e outras histórias de horror”, na qual conto um pouco sobre como comecei a escrever e explico as diferenças entre “terror” e “horror” (reservei algumas partes igualmente bacanas da entrevista para textos futuros aqui no blog):

Pergunta: Como você resolveu ser escritor?

Resposta: É difícil precisar um ponto específico que fez com que eu desenvolvesse o interesse pela escrita ficcional, pois isso não ocorreu de uma hora para a outra. Mas tenho certeza de que o cinema contribuiu com uma influência imprescindível – inesperada e curiosa – nesse processo todo.

Quando era criança, eu não tinha o hábito de ler com frequência, mas já gostava bastante dos livros. Do que eu gostava ainda mais, contudo, era o cinema, em especial o de suspense e terror. Na verdade, para mim, a ficção de terror sempre foi muito mais do que uma preferência qualquer ou uma mera curiosidade temporária – ela foi e é um verdadeiro estilo de vida. Desde que me lembro, a ficção de terror (seja no cinema, na literatura, na música, na fotografia ou em qualquer outro meio em que ela possa se manifestar) tem uma importância decisiva em minha vida, impulsionando-me a buscá-la, a conhecê-la a fundo e a torná-la um dos pilares de minha existência. É um fascínio permanente que faz parte do meu modo de ser.

Há uns seis ou sete anos, resolvi fazer um filme de terror com alguns amigos. Na época, eu não tinha recursos, atores, cenários ou sequer uma câmera (e alguns diriam que nem mesmo idade para isso!). Mas eu tinha ideias, vontade e bons amigos – e isso foi o suficiente. Fizemos um curta-metragem amador bem simples, e até que ele ficou legalzinho. Com o passar dos anos, fomos fazendo mais filmes, cada vez com maior qualidade e ousadia, superando com criatividade e obstinação as limitações que a falta de dinheiro e equipe técnica nos impunham. Durante esses anos, fui descobrindo a Literatura e todas as possibilidades que ela fornece. Nela, ao contrário de no cinema, não há limitações que não aquelas do próprio autor (pelo menos não na fase de escrita propriamente dita; edição e publicação são outras histórias). Escrevendo, não precisamos nos preocupar com dinheiro, patrocinador ou recursos materiais, e podemos criar e explorar universos que, de outra forma, talvez nunca imaginaríamos. E essa magia faz com que, no percurso, descubramos muitas coisas dentro de nós mesmos, expandindo nosso espírito de formas surpreendentes.

Como marco simbólico, foi quando um amigo meu me apresentou uma antologia de contos de terror organizada pelo Alfred Hitchcock que eu percebi que eu também poderia me aventurar pela literatura. Nesse tempo eu já gostava de Poe e Conan Doyle, mas os escritores ainda me pareciam lendas distantes, sagradas e intocáveis, e não seres-humanos reais, de carne e osso, que efetivamente criaram aquelas páginas. Quando percebi que eu também poderia fazer algo semelhante, assim com meu amigo, entrei nesse mundo e, desde então, não saí mais.

Pergunta: Qual a sua idade? Com quantos anos você começou a escrever?

Resposta: Estou com 21 anos. Não me recordo ao certo da idade em que comecei a escrever para valer. Creio que foi com 16 ou 17, quando eu passei a ler com maior frequência e conheci mais a fundo escritores como Poe, Lovecraft e Stephen King. Dostoiévsky e Machado de Assis também foram muito importantes no desenvolvimento da minha consciência e do meu estilo literários. Mas também tive muitas influências fora da Literatura, em especial nas pinturas de Salvador Dalí e no cinema de Dario Argento, Mario Bava, Alfred Hitchcock, Luis Buñuel, Alejandro Jodorowsky, George Romero, John Carpenter e, mais recentemente, David Lynch e Rodrigo Aragão, dentre tantos outros.

Pergunta: Qual é o gênero do seu livro?

Resposta: Terror e horror.

Pergunta: Qual é a diferença entre um e outro?

Resposta: Há uma diferença sutil entre o que é “terror” e o que é “horror”, mas procuro explorá-los em níveis iguais. Pode-se dizer, de maneira bem simples e resumida, que o terror tem mais a ver com elementos sobrenaturais e com a sensação de antecipação de uma emoção forte no leitor (como quando uma porta vai se abrindo lentamente na escuridão e, aflitos, não sabemos o que há por trás dela); o horror, por outro lado, é a emoção impactante propriamente dita, tendo mais relação com a aparição súbita e explícita do monstro grotesco que estava abrindo a porta para nos assustar. De certa forma, terror e horror são elementos que caminham juntos para a construção de uma boa história, assim como o mistério e o suspense, na clássica diferenciação feita por Alfred Hitchcock (no mistério, eu pressinto que algo vai acontecer, mas não sei o que ou o porquê; no suspense, eu sei que algo vai acontecer e também sei o que vai acontecer, mas não sei necessariamente quando ou de que forma, o que deixa meus nervos à flor da pele).

***

Na próxima publicação aqui no blog, falarei mais a respeito de processos de escrita e de como eu tive a ideia para escrever o livro, bem como de minha longa jornada para concluí-lo.

Para finalizar, para quem ainda não viu ou não conhece os filmes que produzi de forma independente com meus amigos, segue o principal deles, SOMNIUM, de 2012:


(Agradecimentos especiais vão para Murilo Toffanelli, Paulo Isepan, Dilter Oliveira, Beatriz Oliveira, Luiz Henrique Romero, Hítalo Corredeira e para todo mundo que, de uma forma ou de outra, consolidou comigo esse curta-metragem).

Clique aqui para ler a segunda parte da entrevista.

domingo, 14 de junho de 2015

CHRISTOPHER LEE – Uma singela homenagem ao ator

A essa altura, três dias depois da morte de Christopher Lee, até meu primo mais novo que nem gosta de cinema e de terror já deve saber quem ele foi, o que ele fez, quais personagens interpretou e quais são os principais dentre os quase 300 filmes em que esse notável gentleman apareceu: Drácula, Frankenstein, A Múmia, O Senhor dos Anéis, O Hobbit, A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça, Star Wars e uma incontável quantidade de filmes de terror dos clássicos estúdios da Hammer, como, por exemplo, O Homem de Palha, que até música do Iron Maiden já virou, são apenas alguns dos exemplos das atuações do icônico cavalheiro britânico.
Pôster original do filme O Homem de Palha (The Wicker Man, 1973), que, além de ter rendido uma refilmagem em 2006 com Nicolas Cage no elenco, deu origem à excelente música do Iron Maiden de mesmo nome. Se ainda não a conhece, ouça no vídeo abaixo!
Lenda reconhecida como tal muito antes de sua morte, Christopher Lee viveu 93 anos de muita atividade e, segundo alguns, morreu cedo (eu mesmo acreditava que ele passaria dos 100!). Aos 91, tornou-se mito no universo da música ao ser o homem mais velho do mundo a lançar um álbum de heavy metal. \m/_
Como uma humilde homenagem ao ator, faço aqui uma sugestão de um excelente filme com ele, dirigido pelo grande Mario Bava, chamado O Chicote e o Corpo (La frusta e il corpo, 1963). Apesar de pouco conhecida, essa pérola do cinema gótico é de encher os olhos, com uma magnífica fotografia colorida, fantasmagórica e misteriosa, uma história lenta, mas muito envolvente, e uma presença marcante do ator, que, na época, já contava com 41 anos. Uma obra de arte gótica que vale a pena ser vista e apreciada. Uma experiência cinematográfica rica e diferenciada, ideal para conhecermos uma das faces do trabalho desse versátil ator inglês. Não darei detalhes sobre a trama para não estragar as surpresas, mas O Chicote e o Corpo é um dos melhores filmes com Christopher Lee.

Cena do filme O Chicote e o Corpo.
No filme, o personagem de Lee assombra e cativa uma mulher de maneiras muito peculiares.
Christopher Lee, em cena do filme.
Vá com Deus, Sir Christopher Lee, e sente-se ao lado de Boris Karloff e Vincent Price.

domingo, 7 de junho de 2015

15 INJUSTIÇADOS (Os melhores filmes do mundo – Parte 2)

Conforme deixei claro no artigo que fiz aqui no blog sobre os 21 melhores filmes do mundo (que, com menos exagero, deveria se chamar “21 dos filmes de que eu mais gosto”), todas as listagens de melhores filmes são fundamentalmente incompletas e subordinadas ao gosto pessoal daquele que as organizou.

Poe, em algum lugar, escreveu: “defino a poesia das palavras como Criação rítmica da Beleza. O seu único juiz é o Gosto”. Por extensão – e sem muitas digressões –, podemos dizer que toda a Arte está submetida, em essência, ao gosto pessoal. De fato, você não precisa ser muito erudito para compreender essa verdade (temo até que, quanto mais erudita a pessoa, menos ela entende isso!), e até uma humilde dona de casa iletrada questiona, com muita sabedoria, pelos ditos populares: “o que seria do amarelo se todo mundo gostasse do azul?”.

sexta-feira, 5 de junho de 2015

OS 21 MELHORES FILMES DO MUNDO – Parte 1


Fazer listas é um trabalho ingrato, visto que invariavelmente incompleto, em especial quando se trata de listas sobre uma das coisas que mais se ama. Apesar disso, é um trabalho muito prazeroso e divertido, já que, justamente por ser sempre incompleto, não precisamos dedicar muita seriedade a ele ou nos preocupar demasiadamente com os resultados. A única regra é a diversão e o compartilhamento de experiências e preferências.

Falando sério, você realmente acha que é possível estabelecer “OS X MELHORES FILMES DE TODOS OS TEMPOS”? Você pode tentar escolher os cem (ou os mil!) melhores filmes, pode refinar sua lista com critérios muito rigorosos (como, por exemplo, fazendo-a com base nos filmes mais influentes, mais inovadores, mais polêmicos ou mais chocantes), mas nela sempre faltará uma quantidade absurda de títulos muito melhores do que aqueles que foram escolhidos e haverá algumas escolhas das quais você se arrependerá depois. Isso porque, seja lá qual for o critério estabelecido, ele terá como princípio-base o gosto pessoal, o qual muda constantemente e está sujeito, a toda hora, a variações de humor, a tendências de momento e ao alcance da memória da pessoa que está fazendo a lista. Além disso, por mais que você seja um cinéfilo-monomaníaco-obsessivo-compulsivo, você nunca assistiu nem a um décimo de todos os longas-metragens, documentários, curtas-metragens e animações que existem por aí.

SCREAMIN’ JAY HAWKINS – O gênio do blues e do terror


Está na hora de começarmos a falar de música aqui no blog!

Para começar, ninguém mais indicado do que o excêntrico, esquisito, assustador, inovador e genial Screamin’ Jay Hawkins!

quinta-feira, 4 de junho de 2015

Sugestão de filme e mini-resenha – UMA NOITE DE CRIME (The Purge, 2013)

Grande parte das pessoas não se importa com críticas longas e detalhadas sobre filmes. Muita gente, menos viciada em cinema do que eu, quer apenas uma sugestão de um bom filme para relaxar à noite após um longo dia de trabalho, para se divertir com os amigos em um feriado qualquer ou para passar o tempo com a namorada num dia de chuva. De fato, resenhas profundas podem ser extremamente interessantes, mas, em muitos casos, não passam de verborragias inúteis de críticos que gostam de discutir à toa (ao que acabam se esquecendo de que o verdadeiro objetivo de um filme é proporcionar prazer ao espectador). Eu, pessoalmente, não nego que também gosto de discutir pelo simples prazer da discussão, e acho que de um bom diálogo e de uma boa análise sempre é possível extrair resultados positivos (uma cena criativa que passara despercebida, uma característica do filme que não fora notada, um ângulo de câmera que deixara de ser apreciado, uma expressão de um ator, um som, uma luz, etc., etc., etc.). Ainda assim, há momentos em que só queremos uma sugestão de filme para nos divertir.

Pensando nisso – e prevendo que, assim que voltarem minhas aulas na faculdade, não conseguirei fazer resenhas longas com uma frequência satisfatória – tive a ideia de escrever resenhas curtas e diretas, com cerca de três parágrafos cada uma, para sugerir bons filmes para o público em geral. Não serão críticas sobre clássicos, filmes obscuros ou antiguidades apreciadas apenas pelos cinéfilos, mas sobre filmes novos, de boa qualidade, aos quais todo mundo gosta de assistir. As análises mais longas e pormenorizadas eu reservarei para filmes especiais, em ocasiões específicas, e as identificarei no topo do texto.

Assim sendo, vamos ao filme!


A sinopse: Na América, em um futuro próximo, o governo sancionou um período anual de 12 horas, permitindo qualquer atividade criminal, incluindo assassinato. Nessa noite dominada pela violência e por uma epidemia de crime, uma família é testada para ver até onde irá para se proteger quando o cruel mundo exterior entrar em sua casa.

Dos produtores de Sobrenatural (Insidious, 2010) e A Entidade (Sinister, 2012), surge essa criativa história cheia de tensões, reviravoltas e críticas sociais. Com pouco menos de uma hora e meia de duração, Uma Noite de Crime consegue ser um dos melhores e mais competentes thrillers dos últimos anos, sabendo apresentar suspense e cenas claustrofóbicas na medida certa, sem apelações. Apesar de ter algumas cenas bem angustiantes, trata-se de um filme que dá para você assistir com sua namorada medrosa sem que ela tenha chiliques e feche os olhos o tempo todo, mas também é um filme que vai prender sua atenção do começo ao fim.

O mal bate à porta da casa de uma família que acreditava estar em segurança durante as 12 horas em que todos os crimes são permitidos.

Pessoas mais acostumadas com filmes tensos e chocantes – como o violentíssimo exploitation francês Alta Tensão (Haute Tension, 2003) – poderão ficar com a sensação de que Uma Noite de Crime não explorou todo o medo e angústia que a premissa do roteiro oferecia, mas dá para perceber que a intenção do filme não era mesmo ser tão extremo como o longa francês mencionado, mas ser simplesmente um bom filme acessível a todos os públicos que queiram um pouco de suspense de qualidade. E, para ser sincero, acredito que eles acertaram em cheio nisso, fugindo de exageros para apresentar uma história bastante original e que levanta questões interessantes.

 
Uma Noite de Crime tem excelentes momentos de tensão.

Em conjunto com o suspense muito bem trabalhado, que, por si só, já compensa a uma hora e meia do filme, Uma Noite de Crime se vale da ficção de um futuro próximo e de uma bizarra lei imaginária para criar situações verossímeis que funcionam como metáforas críticas para a sociedade atual e para nossa própria posição nela. À semelhança do que ocorre em Laranja Mecânica (A Clockwork Orange, 1971), em Corrida da Morte – Ano 2000 (Death Race 2000, 1975) e, mais recentemente, em Divergente (Divergent, 2014), características absurdas de um futuro hipotético servem como alegorias para trazer à tona problemas da sociedade atual e da própria natureza humana que, de outra forma, talvez passassem despercebidos. Mas, para quem não quiser se aprofundar nessas questões propostas pela trama, ainda assim o filme é uma boa experiência de suspense, com poucos clichês e muita diversão.

E você, se pudesse cometer qualquer crime sem sofrer as consequências, qual escolheria?

Ficha técnica: 2013 / EUA / Cor / 85 min / Direção: James DeMonaco / Roteiro: James DeMonaco / Elenco: Ethan Hawke, Lena Headey, Max Burkholder, Adelaide Kane, Edwin Hodge, Rhys Wakefield

quarta-feira, 3 de junho de 2015

Resenha – NA SOLIDÃO DA NOITE (Dead of Night, 1945)

Fiquei pensando por um bom tempo sobre qual seria o melhor filme para estrear esta seção do blog, onde farei pequenas resenhas de filmes interessantes, assustadores, incomuns, estranhos, desconhecidos ou apenas bons. Cogitei fazer uma resenha sobre algum clássico do Dario Argento (um dos meus diretores favoritos, responsável por obras-primas como Prelúdio para Matar, Suspiria e Phenomena); tive a ideia de falar a respeito de algum filme de terror conhecido e apreciado pelo grande público (como, por exemplo, Jogos Mortais ou A Hora do Pesadelo); passou pela minha cabeça fazer uma lista com os filmes feitos a partir do ano 2000 que considero mais aterrorizantes e inovadores, para mostrar que os bons filmes de terror não estão apenas no passado, mas que eles continuam sendo feitos, e cada vez com maior qualidade, apesar de já não serem mais tão populares (Alta Tensão, Sobrenatural, Annabelle, Mártires, Mar Negro, Mama e Uma Noite de Crime – apenas para citar os mais famosos de que me lembro agora – não me deixam mentir!).

Com tantas possibilidades em mente, pensei, pensei, pensei e acabei não chegando a conclusão nenhuma. Todas as ideias me pareciam boas o bastante, e eu não tenho muito daquela frescura de que “o primeiro post tem que ser o ideal, tudo tem que ser perfeito”. Acho que o importante é começar de alguma forma, e começar bem, mas buscar melhorar cada vez mais e ir aprendendo com os erros e acertos. Afinal, não quero que este seja um blog de um post só, não é mesmo?

Foi por isso que, ontem, quando assisti pela primeira vez ao filme inglês Na Solidão da Noite (Dead of Night, 1945), tive a certeza de que seria ele o escolhido para inaugurar esta página dedicada ao cinema de qualidade.

Mas chega de conversa fiada, vamos ao filme!

Pôster de "Na Solidão da Noite", de 1945.

A sinopse: Um arquiteto que sofre com pesadelos constantes é convidado a passar um fim de semana no campo. Ao chegar lá, encontra as pessoas de seus pesadelos, as quais começam a lhe contar histórias horripilantes.

Na Solidão da Noite é um filme muito inovador para a época em que foi lançado (1945). Assustador sem exageros (estamos falando da década de 40, quando os filmes nem tinham sangue ainda!), divertido, inteligente, instigante e maluco de um jeito criativamente peculiar, esse filme é, hoje, considerado um clássico do terror e um precursor de uma linha de filmes muito adorada pelos fãs do gênero até os dias atuais: os filmes que reúnem várias histórias diferentes, mas ligadas por uma trama principal que funciona como o fio-condutor para as outras.

Filmes assim, de junção de episódios quase independentes, tornaram-se consideravelmente populares nas décadas seguintes, como, por exemplo, em No Limite da Realidade (Twilight Zone – The Movie, 1983) e Creepshow (idem, 1982), e pode-se dizer que todos esses filmes divertidíssimos beberam na fonte de Na Solidão da Noite, tanto em forma quanto em conteúdo. E, aqui entre nós, eu não tenho certeza, mas, se tivesse que apostar, entregaria todas as minhas fichas para dizer que o Stephen King deve assistir a esse filme pelo menos uma vez por ano. A influência é notória!

Um dos episódios de Na Solidão da Noite conta a misteriosa história de um espelho que não reflete exatamente a realidade...

Mas os pontos positivos não param por aí: as histórias de Na Solidão da Noite são daquelas que extraem eventos extraordinários de situações e objetos triviais do dia-a-dia (como de um espelho, de uma festa de natal e de um boneco de ventríloquo – sobre o qual falarei mais tarde). Além disso, o filme tem forte influência do cinema de Alfred Hitchcock e não teme mesclar terror sobrenatural de ótima qualidade com explicações científicas plausíveis e uma pitada bem bacana de humor.

Todos os cinco contos que compõem o filme são legais, bem escritos e bem dirigidos, mas o astro da festa é, de longe, o episódio que envolve o ventríloquo Maxwell Frere e seu boneco Hugo Fitch. No começo, vemos Maxwell em uma divertida apresentação com o boneco, mas logo percebemos que há algo de errado ali. Por indícios muito sutis e macabros, passamos a desconfiar que, na verdade, é Hugo quem está controlando Maxwell, e não o oposto. Ao longo da trama muito bem desenvolvida, a tensão em torno do boneco sinistro vai crescendo e mexendo com nossa imaginação, o que culmina em um desfecho igualmente aterrorizante e revelador.

Maxwell Frere (Michael Redgrave, em ótima interpretação) e seu sinistro boneco Hugo, em cena do filme.

O único ponto negativo que encontrei no filme foi que, como ele é composto por vários contos diferentes, em alguns momentos de transição entre uma história e outra o filme pode se tornar um pouco cansativo, mas nada que atrapalhe essa maravilhosa experiência cinematográfica. E o episódio sobre dois jogadores de golfe, apesar de não ser ruim, destoa um pouco do restante do filme com uma comicidade que anula qualquer medo que pudesse surgir da história, mas, por outro lado, serve para dar uma variada revigorante (e, talvez, até necessária) no tom da película.

Por fim, como se trata de uma obra antiga e em preto e branco, o filme não é indicado para todas as pessoas, em especial para aquelas que querem um show frenético de efeitos especiais com explosões e sustos baratos e imediatos. Para quem quer uma história bem construída, divertida, cativante e misteriosa, cheia de surpresas e cenas memoráveis, no entanto, Na Solidão da Noite é uma dica que vale a pena ser levada a sério!

Hugo, se passando por um boneco simpático e engraçadinho, no começo do episódio.

Curiosidades:

- No filme Gritos Mortais (Dead Silence, 2007), do excelente diretor James Wan (o gênio responsável por Jogos MortaisSobrenaturalInvocação do Mal e Annabelle), há um boneco muito semelhante ao Hugo de Na Solidão da Noite. Uma agradável homenagem de um dos melhores diretores de terror da atualidade a um dos maiores clássicos do cinema inglês;

- O melhor dos episódios do filme (O Ventríloquo Idiota) foi dirigido pelo brasileiro Alberto Cavalcanti.


Hugo Fitch (provavelmente desejando bons sonhos para os espectadores, hehehehe...).
Ficha técnica: 1945 / Reino Unido / P&B / 103 min / Direção: Alberto Cavalcanti, Charles Crichton, Basil Dearden, Robert Hamer / Roteiro: John Baines, Angus MacPhail (baseados em histórias de H. G. Wells, E. F. Benson, John Baines, Angus MacPhail) / Produção: Michael Balcon, Sidney Cole e John Croydon (Produtores Associados) / Elenco: Mervyn Johns, Roland Curver, Michael Redgrave, Mary Merrall, Googie Withers, Frederick Valk.

terça-feira, 2 de junho de 2015

Boas-vindas e divulgação de "A Caixa de Natasha"

Sejam bem-vindos, amantes da boa literatura e do cinema!

Criei este blog com a intenção de publicar, ao menos uma vez por semana, dicas e resenhas de filmes e livros, em especial sobre aqueles relacionados ao terror, ao mistério e ao sobrenatural, mas sem me limitar a apenas eles. Também pretendo, aqui, divulgar e comentar sobre obras de autores brasileiros ainda desconhecidos do grande público, mas de enorme valor literário. Farei, ainda, comentários sobre minha carreira como escritor e, eventualmente, darei dicas e instruções para escritores iniciantes que queiram ter suas obras publicadas. Estarei sempre à disposição para ajudar da melhor forma possível e para compartilhar conhecimentos e experiências!

Para inaugurar o blog, faço este post de divulgação do meu livro “A Caixa de Natasha e outras histórias de horror”.

O livro em questão, que publiquei pelo selo TLB da Editora Novo Século, reúne 17 contos, 3 poemas e uma narrativa longa (A Caixa de Natasha) – todos eles explorando as mais variadas facetas da ficção de horror, desde o terror psicológico sutil até o exagero escatológico de sangues, tripas e carnificinas, passando por todos os sinistros mistérios que existem entre esses dois extremos.

Os contos, escritos ao longo de vários anos de trabalho e selecionados a dedo para a melhor experiência de terror na literatura, apresentam histórias instigantes, macabras e assustadoras, com finais surpreendentes e arrebatadores. Os personagens, apesar de atormentados, paranoicos e, muitas vezes, doentios, são cativantes e estão dentro de tramas que farão com que o leitor não queira mais largar o livro até a última página com a revelação final. Os cenários são sombrios, misteriosos, apavorantes e brumosos, evocando os deliciosos assombros e imagens de pesadelos e delírios que apenas a verdadeira literatura de horror pode proporcionar.

“A Caixa de Natasha e outras histórias de horror” terá seu evento oficial de lançamento em uma conhecida livraria de Londrina-PR e será comercializado pelas principais livrarias do país. No entanto, para os interessados, encomendas já são possíveis diretamente com o autor, com um desconto super especial de lançamento! Não perca!

Não se esqueça de seguir a página de A Caixa de Natasha no facebook, onde publicarei periodicamente muitas novidades e informações sobre o livro:
https://www.facebook.com/acaixadenatasha?ref=bookmarks

Compartilhem, divulguem, comentem e avaliem! A opinião do leitor é de extrema importância para mim e para a melhoria de meu trabalho!

Link de “A Caixa de Natasha e outras histórias de horror” no Skoob: http://www.skoob.com.br/livro/454190ED514438