sábado, 28 de outubro de 2017

Uma página de loucura


O filme "Uma Página de Loucura" (Kurutta Ippēji), de 1926, foi uma das principais influências que tive para escrever A Caixa de Natasha.

Apesar de no livro haver apenas uma única referência direta (embora sutil) ao longa-metragem, a ideia para a atmosfera geral da história, com distorções de percepção em um hospício decadente que se assemelha a um pesadelo dentro de um caleidoscópio, deve muito a esse obscuro filme experimental japonês de Teinosuke Kinugasa.

Algumas curiosidades sobre "Uma Página de Loucura":

quinta-feira, 19 de outubro de 2017

FLORES E CADÁVERES


Recentemente eu escrevi que "para mostrar uma flor, o artista deve ter uma floresta inteira cultivada dentro de si". Um amigo me disse que adorou a frase, mas estranhou ela ter vindo de um escritor de terror.

Pensei a respeito.

Eu poderia ter dito que "para mostrar uma ocultação de cadáver, o artista deve ter alguns corpos enterrados no quintal", mas, além de a nova metáfora fazer perder algumas nuances de significados da original, eu não sou nada bobo de ficar revelando meus segredos por aí...

sábado, 26 de agosto de 2017

Uma questão sobre pesadelos


Esta noite, enquanto eu dormia, sonhava com duas pessoas conversando tranquilamente. O conteúdo da conversa ou quem eram os interlocutores já me escapou da memória, mas sei que eles dialogavam sobre algo de pouca importância. Do que me lembro bem, porém, é que, num décimo de segundo, num súbito 100% inesperado de puro susto físico instintivo, um terceiro rosto, gritando com voz alta e áspera, pulou de dentro do rosto de um dos homens que conversavam em direção ao meu campo de visão, cobrindo-o por completo durante alguns instantes (algo similar ao que acontece quando, num susto barato de um filme de terror, um mostro aparece do nada e preenche toda a tela com uma asquerosidade arrepiante para a qual ainda não estávamos preparados).

sábado, 8 de julho de 2017

POR QUE SONHAR? POR QUE A ARTE?


“Não é o medo da loucura que nos vai obrigar a hastear a meio-pau a bandeira da imaginação” – André Breton, em “O Manifesto do Surrealismo” (1924).

Todo indivíduo humano, necessariamente, sonha. Mesmo o mais frio e objetivo dos homens, em algum ponto de seu dia, sem a sua permissão, terá sua mente invadida por fluxos estranhos de imagens aleatórias, frequentemente bizarras, quase sempre sem explicação ou sequer lastro na realidade.

quinta-feira, 1 de junho de 2017

RESENHA: Na Escuridão da Mente, de Paul Tremblay


Em 2015, Na Escuridão da Mente foi o vencedor do Bram Stoker Award, a maior premiação internacional para livros de terror. E não é para menos: o livro, mais do que apenas assustador (o que ele de fato é, e muito!), traz uma história de suspense psicológico que respeita e instiga a inteligência do leitor. Uma história com muitas camadas e subtextos sutis, mas eficientes, que dão uma profundidade sempre crescente à obra, fazendo com que nos deparemos com novas interpretações toda vez que rememoramos essa ou aquela cena específica, ou mesmo o livro como um todo. É, em suma, uma obra imprescindível para o terror contemporâneo; o livro que faltava para galgarmos mais um degrau na escada da evolução literária do terror feito com comprometimento e seriedade.

domingo, 21 de maio de 2017

Pequena Fábula, de Franz Kafka

"Ah", disse o rato, "o mundo torna-se cada dia mais estreito. A princípio era tão vasto que me dava medo; eu continuava correndo e me sentia feliz com o fato de que finalmente via à distância, à direita e à esquerda, as paredes, mas essas longas paredes convergem tão depressa uma para a outra que já estou no último quarto e lá no canto fica a ratoeira para a qual eu corro". – "Você só precisa mudar de direção", disse o gato. E devorou-o.

sábado, 29 de abril de 2017

REALIDADE E IMAGINAÇÃO

"Os problemas do mundo possivelmente não podem ser resolvidos por céticos ou cínicos, cujos horizontes se cingem às realidades óbvias. Precisamos de homens capazes de sonhar com coisas que nunca existiram" – John F. Kennedy.

Uma das muitas funções do escritor sério – e que talvez sintetize todas as demais – é realçar para o leitor algum aspecto da existência, ampliando-lhe a percepção da realidade.

Para um escritor, a imaginação funciona como um sexto sentido para explorar as possibilidades da existência: um sentido extra que vê o que os olhos não veem, que escuta o que os ouvidos não captam, que fareja o que escapa às narinas, que saboreia o que é inacessível à língua e que experimenta aquilo que a pele nunca sentiu. Essa é a essência do ofício literário, de modo que, para se manter vinculado à realidade, um escritor precisa cultivar assiduamente a imaginação – e, se quiser escrever boa ficção, deve ter, ou ao menos estar buscando, profunda compreensão acerca do mundo real.

domingo, 9 de abril de 2017

ROSTOS: conto de horror e loucura baseado em fatos reais


Encontrei o conto abaixo esquecido em meio a alguns manuscritos pessoais, e, por ele ser bastante curto, resolvi postá-lo aqui no blog para vocês. "Rostos" só não está presente no livro A Caixa de Natasha e outras históriasde horror porque eu o escrevi depois de ter concluído o livro, mas gosto bastante desse conto, em toda sua simplicidade e esquisitice. A história, escrita em primeira pessoa, aborda a paranoia e o desespero de um narrador atormentado por estranhas visões de rostos deformados e foi inspirada nas perturbadoras imagens do filme Alucinações do Passado (Jacob's Ladder, de 1990), bem como nas bizarras pinturas de Francis Bacon. Além disso, seu tema central provém de um incidente ocorrido há algumas décadas na cidade de Tabapuã-SP, onde nasci e vivi até a adolescência.

segunda-feira, 3 de abril de 2017

EM DEFESA DOS ESQUECIDOS


"Na França eu sou considerado um artista; na Alemanha, um cineasta; na Inglaterra, um autor de filmes de gênero; nos Estados Unidos, um vagabundo" – John Carpenter.

Uma parte significativa das mais altas conquistas da sétima arte proveio dos filmes de terror, em especial no que diz respeito a fotografia, efeitos sonoros, iluminação, movimentação de câmera e montagem. Uma quantidade gigantesca dos mais inventivos prodígios registrados em imagem e som para fins de pura diversão (o que talvez seja a mais autêntica forma de arte) está em filmes trash, de kunf fu, em faroestes e comédias nonsense. Contudo, muitas dessas obras que representam o ápice da imaginação humana, transbordantes de paixão e explosivas em criatividade, nunca ganham prêmios importantes e raramente constam em mais do que breves notas nos livros de História do Cinema.

quarta-feira, 22 de março de 2017

BLACK SABBATH NUNCA É DEMAIS: demo de 1969 com músicas pouco conhecidas da banda

Dois covers que o Black Sabbath fez de músicas da banda de Norman Haines em 1969, quando o grupo de Ozzy Osbourne e Tony Iommi ainda era conhecido como "Earth".

segunda-feira, 6 de março de 2017

Os 18 melhores filmes do mundo – Parte 3


Este blog, mais do que uma simples via de comunicação entre mim e vocês, amigos leitores, é, para este estranho ser que atende pelo nome de Melvin Menoviks, uma espécie de diário virtual em que transcrevo, por meio de palavras, imagens e jogos de linguagem, um pequeno pedaço da minha personalidade.

Esse íntimo compartilhamento de pensamentos, sentimentos, preferências e visões-de-mundo, embora quase sempre se dê em forma de enigma, é invariavelmente sincero e personalíssimo. Por isso, quando faço listas de preferências, como a que segue abaixo, não tenho o intuito de apresentar um rol fixo de filmes superiores a todos os demais ou sequer colacionar títulos representativos de um ou outro estilo que mais agrade a determinado público. Minha intenção é manifestamente outra: quero, apenas, registrar alguns bons filmes  em sua maioria, filmes extraordinários  que, em determinado momento da minha vida, causaram-me tamanho impacto que puderam ser classificados como os "melhores do mundo".

sexta-feira, 3 de março de 2017

Ficção?


Seria a ficção um relatório cifrado, talvez até de modo inconsciente, da relação entre o autor e o mundo pelo qual ele caminha?

sábado, 21 de janeiro de 2017

COMO ESCREVER? (OU: POR QUE ESCREVER?)


COMO ESCREVER? (OU: POR QUE ESCREVER?)
“Não há nada pior do que dar longas pernas para pequenas ideias” – Machado de Assis
Toda experiência, por menor que seja, traz consigo algum tipo de aprendizagem que reflete, em certo grau, uma sabedoria muito maior do que a própria experiência que lhe deu causa: uma sabedoria infinita que nos transcende e da qual só temos acesso parcial por meio de associações, representações, inferências e metáforas. Essa aprendizagem, contudo, filtrada e destilada não só pela razão, mas, principalmente, pelas nossas vivências, pelo nosso temperamento e por tudo aquilo que nos faz seres animados e conscientizáveis, precisa de estímulo para se desenvolver e tempo para se consolidar, funcionando da mesma maneira que uma semente plantada no solo invisível que é o nosso espírito. Assim, não seria exagero manter a analogia afirmando que esse estímulo e esse tempo são, respectivamente, os nutrientes e a irrigação que condicionam o crescimento da semente: são os fatores imprescindíveis para a maturação da aprendizagem, mas que, por comodismo, desatenção ou simples desinteresse, nem sempre permitimos que existam, deixando de estimular o estímulo ou de dar tempo ao tempo, como sugere a sabedoria popular.

Outros motivos


Certa vez, neste link, eu disse que "escrevo por três motivos fundamentais: o primeiro é brincar com o estilo. O segundo é vasculhar estados de consciência. O terceiro eu não sei qual é".

Meu amigo Luciano Otaciano comentou que, para ele, escrever proporciona uma sensação indescritível de liberdade, "igual a um acorrentado que se livra das malditas correntes".

De minha parte, acho belíssimo o ideal de buscar a liberdade plena por meio da literatura, e admiro quem o faz, pois esse é um caminho esplêndido. Confesso, entretanto, – e confesso não sem o receio daquele que caminha por perigoso terreno desconhecido tentando traçar um mapa – que, para mim, a questão assume nuances mais complexas e tormentosas.