segunda-feira, 17 de outubro de 2016

15 MICROCONTOS DE TERROR


Algum tempo atrás, fui desafiado pela escritora Rô Mierling a elaborar histórias de terror com apenas 100 toques no teclado. Ainda que inventar situações assustadoras em poucas linhas não seja algo assim tão complexo, a grande dificuldade do desafio está em escrever essas histórias macabras com EXATOS 100 caracteres (contando espaços e pontuação).

De acordo com as regras do desafio, o rigor dos 100 toques no teclado é absoluto: não valem histórias com 99 caracteres, nem com 101. Portanto, as palavras devem ser cuidadosamente selecionadas, e o texto deve manter um sentido coerente. Para mim, além disso, impus o dever de garantir que esses textos fossem, de fato, aterrorizantes.

Seguem, agora, 15 microcontos de terror que escrevi de acordo com a proposta do desafio:

1) Suzy só parou de cantar quando morreu. Desde então, sua voz suave fere meus ouvidos todas as noites.


2) Enquanto escovo os dentes nada há de errado. Quando me viro, o reflexo no espelho encara minha nuca.


3) Sombras trêmulas. Fogo. Estou no inferno ou só sonhando? Vejo meu corpo no caixão. Tenho a resposta.


4) Na calada da noite, não sei o que é mais aterrorizante: a sombra que me persegue ou a ausência dela.


5) Sob o gélido luar, fantasmas me chamam para o precipício que só não é mais escuro do que minha alma.


6) Sozinho na maca do hospital, coço minha nuca. Só então me lembro de que meus braços foram amputados.


7) Na escuridão, olho no relógio: 13h. Eclipse? Tento me levantar mas bato a cabeça na tampa do caixão.


8) Seguro a faca ensanguentada. A vítima não respira, mas sei que ela ainda está mais viva do que eu...


9) Neste cemitério sombrio, é estranho como os galhos das árvores se mexem mesmo sem haver vento algum.


10) Nesta casa maligna nada é o que parece: pela dor descobri estar mastigando não chiclete, mas gilete!


11) Nesta casa maligna nada é o que parece: sem o sangue, como saberia estar vivo o vulto que esfaqueei?

12) Nesta casa maligna, nada é o que parece: foi em meus filhos, não em demônios, que atirei para matar.


13) Nesta casa maligna, nada é o que parece: o uivo do meu cão tornou-se o chamado para minha danação...


14) Nesta casa maligna, nada é o que parece. Descendo as escadas, descobri minha nova morada: o inferno!


15) Sou cataléptico. Um dia – ai de mim! – acordei, imóvel, sentindo o aroma de velas e flores fúnebres.

9 comentários:

  1. Olá Melvin,

    Ótimos esses microcontos, como sempre o seu talento é visível até na escuridão. E essas imagens acompanhando os contos deram um clima bem especial as narrativas. hehe

    Grande Abraço,

    Leitor Noturno
    e Coisas de Um Leitor

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    1. Gentileza a sua, Matheus. Sou só um cara brincando com o que gosta: as palavras.

      Abração!

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  2. Muito bom Blog. Encontrei buscando, justamente, por microcontos. Os seus, inclusive, são muito bons.

    Seguindo.

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  3. Hoje em dia, as funerárias se valem da tanatopraxia, então é quase impossível ser enterrado vivo.mas o texto é ótimo.

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  4. Gente q medo mim aripiei em cada microconto q lia

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  5. Uau! Você escreve muito bem! Obrigada, estava precisando de alguns exemplos para um trabalho...

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  6. Amei muito,espero poder ler mais ainda, amo cada detalhe,parabéns ficou ótimo.

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