quinta-feira, 13 de outubro de 2016

SOBRE A LITERATURA E O MERCADO LITERÁRIO NO BRASIL


Minha admiração por Rubens Francisco Lucchetti cresce a cada dia, e esse crescimento é exponencial. Além da natureza ímpar, repleta de genuína paixão, de sua vasta produção ficcional, seus comentários no facebook são sempre acurados e revelam tanto uma inteligência aguçada quanto uma experiência valiosíssima colhida ao longo de décadas de dedicado trabalho literário. Por isso, cada vez mais tenho maior certeza de que sua voz é uma voz que não deve, jamais, ser olvidada.

Comprovo o que digo compartilhando as palavras do Rubens a respeito da relação entre as grandes editoras e o autor nacional:

"Nossas grandes editoras (são apenas grandes no tamanho) padecem, há muito tempo, de um mal que está levando-as, pouco a pouco, para a tumba: não investem no talento do autor nacional (não apostam no autor brasileiro e não o ajudam a melhorar seu trabalho), preferem apostar no mesmo lixo editorial estrangeiro de sempre. Editam os livrinhos da moda. Os best-sellers que, em seis meses, são vendidos a quilo nos sebos. Bem, a maioria dessas editoras também nem nacionais são mais."

De minha parte, reforço tais palavras, preferindo soar redundante a deixar de enfatizar a realidade quase paradoxal dos embates entre literatura e mercado literário no Brasil: em um país no qual pouca gente lê, o jovem escritor, sozinho, às suas próprias expensas e por sua própria conta e risco, sem o auxílio de uma equipe experiente (revisores, leitores beta, profissionais do marketing, etc.) e desprovido de qualquer mínima estrutura de apoio, tem de conquistar um significante público leitor para, só então, depois de muitos anos de trabalho duro, constante e mal remunerado, ter alguma atenção das grandes editoras.

Nunca – repito: nunca! – vi uma única editora dar um voto de confiança a um autor, ainda que talentoso e claramente cheio de entusiasmo e energia, apenas em razão da qualidade de sua obra, sem a segurança de uma fama prévia ou de uma expressiva contraprestação pecuniária. Vejam bem: todos sabemos que editoras, sendo empresas, e não mecenas, precisam, necessariamente, ser cautelosas em seus passos e escolhas. Vendo pelo lado delas, é compreensível esse excesso de prudência, e não as podemos culpar por estarem sujeiras à severa lei da oferta e da procura. O que podemos – e devemos! – é dialogar em prol de uma construção progressiva, de uma edificação cultural sustentável e amigável em que a palavra de ordem seja a união.

Creio que o que as editoras devem fazer, na atual conjuntura, é valer-se de mecanismos ativos para a descoberta e o desenvolvimento de autores nacionais, como, por exemplo, por meio de cursos, concursos e a elaboração de antologias temáticas de qualidade. Com isso, além de apresentarem um diferencial no mercado, ganhariam a confiança e o respeito de autores nacionais talentosos, com os quais poderiam trabalhar de forma efetiva por meio de parcerias duradouras. De quebra, estariam auxiliando na construção daquela coisinha intangível, mas bem real, sobre a qual quase ninguém fala mas que, em meu ingênuo idealismo de sonhador, considero fundamental para o verdadeiro crescimento de um país: sua identidade cultural.

2 comentários:

  1. O Rubens Francisco Luchetti é uma lenda viva do nosso país. O cara é inteligentíssimo e, com toda certeza merece o nosso respeito e admiração. Muito bom o post Gustavo, é sempre importante valorizarmos à quem merece, e o Luchetti merece, e muito. Forte abraço!

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    1. De fato, o Rubens Lucchetti é um ser humano fantástico. Gosto, sobretudo, da humildade dele. Mesmo recebendo elogios diariamente, ele nunca se mostra arrogante ou envaidecido.

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