quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

FILMES QUE PERTURBARAM ATÉ A MIM

Alguns dias atrás, fui marcado no facebook pela minha amiga Andressa Mendes para participar de uma corrente cujo objetivo era elaborar uma lista com os cinco filmes que mais nos perturbaram. Aproveitando a deixa, resolvi fazer uma publicação aqui no blog com alguns breves comentários a respeito desses tais filmes que feriram meu cérebro como ferro em brasa.

Na lista que segue abaixo, procurei fugir de títulos óbvios, como Terror sem Limites (A Serbian Movie), Holocausto Canibal, Subconscious Cruelty, Guinea Pig, Faces da Morte, August Undergroud Mordum, Slaughtered Vomit Dolls e congêneres. Isso porque, apesar de tais filmes serem quase revoltantes de tão violentos, eles estão em praticamente todas as listas sobre filmes com violência extrema, de modo que são velhos conhecidos dos aficionados por representações gráficas de mutilações, decapitações, esquartejamentos e outras barbaridades mais. Procurei, então, criar uma lista mais pessoal, com filmes que, embora não sejam tão escatológicos quanto os acima citados, foram capazes de me marcar para sempre com a aflição e a inquietação nervosa que provocaram em mim.

1 – Réquiem para um Sonho (Requiem for a Dream, 2000)

Sem apelar para recursos fáceis de violência explícita, a sensação de angústia causada por este filme cresce em um ritmo gradativo, conduzido pela poderosa trilha sonora de Clint Mansell, até atingir limites inconcebíveis, mas muito reais, de dor e desespero. Em Réquiem para um Sonho, a perturbação causada no espectador não provém de desmembramentos ou eviscerações gráficas, mas de pequenos problemas da vida real que vão crescendo, fugindo do controle das personagens e levando-as por caminhos trágicos que, assustadoramente, são os caminhos trágicos a que muitos de nós estamos sujeitos. Esse filme de Darren Aronofsky, com seu roteiro pesado, atuações excelentes e uma montagem genial capaz de transmitir níveis altíssimos de agonia, é uma obra-prima do cinema que proporciona uma experiência dolorosa como poucas vezes algum diretor conseguiu criar. E tudo isso sem violência gratuita: tudo, aqui, é narrado para transmitir uma mensagem importante a respeito da fraqueza e dos vícios humanos.

2 – The Grandmother (1970)

The Grandmother (sem título traduzido para o Brasil) é um filme de 33 minutos feito pelo David Lynch ainda antes de ele dirigir Eraserhead, seu primeiro longa-metragem. No estilo inconfundível deste gênio das artes, The Grandmother é uma experiência surrealista puramente sensorial, repleta de insinuações estranhas, sugestões inquietantes, significados obscuros e tudo o mais que pode haver em um verdadeiro pesadelo. Por se tratar de um filme experimental e surrealista, não são muitos aqueles que se sentem impactados por esta obra, e pessoas menos suscetíveis a esse tipo de abstração onírica dificilmente vão encontrar no filme mais do que esquisitas imagens sem sentido. Para aqueles que têm uma maior sensibilidade às imagens simbólicas dos sonhos e pesadelos, The Grandmother pode ser uma experiência única, fortemente desconcertante.

3 – Alta Tensão (Haute Tension, 2003)

Esse slasher dirigido e co-escrito por Alexandre Aja, ao contrário dos dois primeiros filmes desta lista, possui cenas gráficas de violência explícita que são realmente chocantes. Mais do que isso, o filme se constitui de uma perseguição ininterrupta, no melhor estilo gato-e-rato, que ocasiona momentos da mais pura tensão que o cinema já apresentou.

4 – Henry – Retrato de um Serial Killer (Henry: Portrait of a Serial Killer, 1986)

Livremente baseado na história real do assassino em série Henry Lee Lucas, esse chocante filme retrata de forma cru e brutal a vida de um psicopata, e faz isso sem se valer das teses psicológicas pretensamente científicas ou do romantismo idealizado que normalmente caracterizam os filmes sobre serial killers (vide Hannibal Lecter, por exemplo, que, apesar de ser um grande personagem, é mais um ícone pop do que um assassino que poderia existir na realidade). O retrato cinematográfico do assassino Henry Lucas é mais realista do que qualquer documentário já produzido e faz com que os espectadores sintam não apenas a angústia de suas vítimas, mas, ainda mais, os tormentos do próprio assassino. Embora o filme seja de baixa produção, não há como classificá-lo como um filme trash, pois o diretor John McNaughton, mesmo com escasso orçamento e poucos atores, conseguiu criar uma obra forte o bastante para abalar até mesmo os frequentadores do violento cinema da década de 80, expressando, com isso, uma crítica ao uso da violência como entretenimento e ao sensacionalismo vazio que vulgariza a necessária discussão em torno da crueldade humana. Ao acompanhar o dia-a-dia de Henry Lee Lucas, ninguém consegue ficar indiferente, e, a partir daí, somos levados a refletir com seriedade a respeito das pulsões de sadismo e agressividade que, inegavelmente, são elementos intrínsecos da natureza humana (sobre esse assunto, vale a pena ler o artigo "As delícias do terror e as trevas do coração", aqui do blog).

5 – Mártires (Martyrs, 2008)
Ao lado de Alta Tensão, este filme de Pascal Laugier é um dos maiores representantes do Novo Extremismo Francês, um movimento cinematográfico caracterizado por cenas de ultra-violência, roteiros super tensos e gore desmedido. Indo muito além do trivial terror norte-americano e quebrando as fronteiras dos torture-porns já um tanto batidos, os filmes do Novo Extremismo Francês fazem jus ao título que lhes foi concedido e, com produções impecáveis, alcançam extremos nunca antes imaginados de agonia e aflição. No caso de Mártires, não posso revelar nada de seu enredo, pois eu fatalmente acabaria dando spoilers imperdoáveis, mas posso afirmar que sua história é muito original e explora um tema que eu nunca tinha visto no cinema antes. Mártires é sangrento, horrendo, desconfortante e, para nossa surpresa, cheio de significados latentes. A história e seu desfecho são, por si só, tão perturbadores quanto as longas cenas de tortura presentes no filme. Além disso, é uma obra inteligentíssima que nos deixa refletindo, atormentados, por um bom tempo depois que os créditos sobem. Mártires é um clássico instantâneo que merece ser respeitado.

Bônus: A Bruxa (The Witch, 2016)

Sei que há muita polêmica ao redor deste filme. Muita gente ficou decepcionada com ele, dizendo que não é tudo isso o que estão falando e que nem é tão assustador assim (de fato, não é um filme assustador, na sentido estrito do termo, mas sustos não são tudo, e o verdadeiro terror é algo muito mais insidioso, quase sutil).

Não vou apresentar justificativas nem ficar me explicando. O fato é que eu considero A Bruxa um dos melhores filmes já feitos. E ele me perturbou. MUITO.
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Agora deixo o desafio para vocês, leitores: quais foram os filmes que mais os deixaram perturbados?
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Atualização: clique nos links abaixo para conhecer minhas listas com aqueles que eu considero os melhores filmes de todos os tempos!

Parte1
Parte 2
Parte 3
Parte 4

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