Fazer listas é um trabalho
ingrato, visto que invariavelmente incompleto, em especial quando se trata de
listas sobre uma das coisas que mais se ama. Apesar disso, é um trabalho muito
prazeroso e divertido, já que, justamente por ser sempre incompleto, não
precisamos dedicar muita seriedade a ele ou nos preocupar demasiadamente com os
resultados. A única regra é a diversão e o compartilhamento de experiências e
preferências.
Falando sério, você realmente
acha que é possível estabelecer “OS X MELHORES FILMES DE TODOS OS TEMPOS”? Você
pode tentar escolher os cem (ou os mil!) melhores filmes, pode refinar sua
lista com critérios muito rigorosos (como, por exemplo, fazendo-a com base nos
filmes mais influentes, mais inovadores, mais polêmicos ou mais chocantes), mas
nela sempre faltará uma quantidade absurda de títulos muito melhores do que
aqueles que foram escolhidos e haverá algumas escolhas das quais você se
arrependerá depois. Isso porque, seja lá qual for o critério estabelecido, ele
terá como princípio-base o gosto pessoal, o qual muda constantemente e está
sujeito, a toda hora, a variações de humor, a tendências de momento e ao
alcance da memória da pessoa que está fazendo a lista. Além disso, por mais que
você seja um cinéfilo-monomaníaco-obsessivo-compulsivo, você nunca assistiu nem
a um décimo de todos os longas-metragens, documentários, curtas-metragens e
animações que existem por aí.
Tendo isso em mente, fiz a
seguinte lista, despretensiosa ao extremo, com os 21 filmes que considero os
melhores de todos os tempos. Não escolhi os filmes mais importantes na história
cinematográfica nem os mais influentes; não me prendi aos clássicos e nem aos
cults ou undergrounds; não busquei apenas diretores consagrados, mas também não
quis dar uma de esquisitão que só gosta de filmes estranhos e desconhecidos.
Simplesmente fui me lembrando dos filmes que mais me agradaram (por qualquer
motivo, ou mesmo por motivo nenhum) e, da enorme lista inicial, selecionei os
21 mais interessantes.
Apesar de eu não ter estabelecido
critérios rígidos de escolha, é inegável que me baseei muito na originalidade
dos filmes, na força artística e autoral que eles têm, na diversão que causam,
na perfeição técnica e, em menor grau, nas questões que abordam e nos
significados que representam tanto na cultura mundial quanto em minha própria
vida.
Enfim, segue a lista, em ordem
alfabética segundo os títulos nacionais:
01 – A Carruagem Fantasma
(Körkarlen, 1921)
Único filme mudo e em
preto-e-branco, anterior à década de 30, que realmente me cativou, como se
tivesse sido feito ontem. Influência para diretores da envergadura de Ingmar
Bergman, Stanley Kubrick e Quentin Tarantino, esse filme é uma das primeiras
obras-primas do cinema e, até hoje, um dos melhores filmes de terror que existem. A famosa cena de O Iluminado
em que Jack Torrance quebra a porta com um machado é uma homenagem explícita ao
extraordinário A Carruagem Fantasma.
02 – A Montanha Sagrada (The Holy Mountain, 1973)
02 – A Montanha Sagrada (The Holy Mountain, 1973)
Possivelmente o melhor filme do
Jodorowsky, ao lado de Santa Sangre e El Topo (ainda não consegui ver A Dança
da Realidade), A Montanha Sagrada é mais do que um filme – é uma verdadeira
jornada espiritual. Cheio de símbolos e surrealismo, esse é, sem dúvidas, um
dos filmes mais importantes da minha vida.
03 – A Pele que Habito (La Piel que Habito, 2011)
O primeiro contato que tive com a
obra de Pedro Almodóvar foi com esse inesquecível e perturbador A Pele que Habito, um filme com história
e estética impecáveis, sofisticadas e com um toque autoral muito singular.
Intraduzível em palavras. Um belo
e original convite à introspecção. Amantes Eternos traz mais questões existenciais
do que caberiam nesta página, em uma melancolia agradável e sem pessimismo. Com seu ritmo
lento, o filme proporciona sensações raras e refinadas. Um filme perfeito.
05 – Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)
(Birdman or (The Unexpected Virtue of Ignorance), 2014)
Até pouco tempo atrás, eu ficava
imaginando como seria vivenciar o surgimento de um verdadeiro clássico: sentar
na poltrona do cinema e, sem saber, assistir a um filme verdadeiramente
inovador e extraordinariamente bom, antes de todo mundo, sem que gerações e
gerações tenham discutido sobre o filme antes de mim e criado toda uma aura
sagrada em torno da obra. Com Birdman, eu descobri qual é sensação.
Um filme que, sem uma gota de
sangue e praticamente sem sustos explícitos, consegue dar mais medo do que
quase todos os outros filmes de terror? Definitivamente, Desafio do Além merece estar nesta lista.
Você já viu esse filme? Se sim,
não preciso explicar por que ele está nesta lista; se não, separe umas quatro
horas para puro prazer cinematográfico e vá assistir. Genialidade sem paralelo.
Clássico que o alemão Werner
Herzog filmou na Amazônia peruana com o louco-cara-de-cuco do Klaus Kinki como
o visionário (e também um tanto louco) personagem principal. Uma jornada sem
precedentes para a realização de um sonho que funciona como uma metáfora sobre o
próprio filme. Fitzcarraldo sempre
consta em minhas listas de “melhores filmes do mundo”.
O único filme digno de ter “Bela
Lugosi’s Dead”, do Bauhaus, na trilha sonora. Já disse o suficiente.
É uma vergonha não ter nenhum
filme do Tarantino nesta lista, mas Guy Ritchie bebeu na fonte de Pulp Fiction
e, com originalidade, um roteiro extremamente criativo e uma montagem fora de
série, criou Jogos, Trapaças e Dois Canos
Fumegantes, um dos filmes mais divertidos de que se tem notícia.
Sabe todos aqueles incontáveis
clichês de filmes de serial killers? M já tinha todos eles em 1931, mas utilizava-os
de uma maneira muito mais criativa do que a de praxe (é como se M tivesse sido feito nos dias de hoje
para mostrar aos filmes clichês como é que se faz). Com um ritmo absurdamente
ágil para a época (é de prender a atenção do começo ao fim até hoje!), efeitos
visuais espetaculares, jogos de câmera impressionantes, montagem inovadora,
dentre tantas qualidades mais, Fritz Lang fez aquele que eu considero um filme
ainda melhor do que Cidadão Kane. Trata-se do filme mais antigo que me fez não
perder a atenção em nem um segundo, deixando-me deslumbrado sem nem pausar para
tomar água durante as duas horas da trama.
Clássico imediato. Obra-prima incontestável. Um milagre
cinematográfico. Apoteose dos filmes de ação. Uma sinfonia de destruição. Isso
é Mad Max: Estrada da Fúria!
Sam Peckinpah mostrando como se
faz um faroeste de verdade. (Sou um ávido fã de faroestes, então não conseguiria
escolher apenas um para a lista. Há pelo menos mais 20 westerns que mereciam estar aqui, mas escolhi Meu Ódio Será Sua Herança porque, além de ser uma boa mistura entre
o estilo americano e o italiano de se fazer faroestes, ele é original, inventivo,
violento, memorável e irretocável).
Magia, mistério, sonho, fantasia,
terror, labirintos, faunos, poesia, imaginação... Meu Deus, Labirinto do Fauno é inacreditável!
Uma ode surrealista ao cinema e à
criação artística. Um dos filmes que mais me deixaram emocionados. Sem palavras
para essa perfeição do Fellini. (Amarcord e Noites de Cabíria também mereciam
estar aqui, mas, se eu aumentasse ainda mais a lista, ninguém ia ler – a ideia
inicial era a lista ser dos 10 melhores filmes, mas eu não consegui reduzi-la a
esse ponto).
Assisti a esse filme pela
primeira vez com minha mãe (que nem costuma ver filmes). Depois da primeira
cena, eu disse para ela que queria lhe falar algo, mas que ia esperar
para falar em uma cena mais chata, para não atrapalhar o filme, já que estávamos
vendo uma parte extremamente fantástica. Não consegui falar nada para ela antes
dos créditos finais, e ela também não disse uma palavra, tamanho o deslumbre causado pelo filme. Phenomena tem um espírito próprio, e é difícil encontrar similares.
Mais um do Dario Argento para a
lista. Assim como no caso de Phenomena, não consigo falar sobre esse filme. É perfeição
demais. Melhor do que qualquer Hitchcock ou Kubrick (podem me apedrejar,
cinéfilos, mas é verdade!).
Giallo surrealista de Alejandro
Jodorowsky. Mais uma obra para a qual nenhuma resenha é suficiente. Poderíamos
falar durante mil anos sobre esse filme: nada se compararia a assistir a ele.
19 – Sob o Domínio do Medo
(Straw Dogs, 1971)
Um dos filmes mais tensos que já vi. Peckinpahzão véio provando que não foi apenas sorte em Meu Ódio Será Sua Herança.
Um dos filmes mais tensos que já vi. Peckinpahzão véio provando que não foi apenas sorte em Meu Ódio Será Sua Herança.
20 – Valerie e a Semana das Maravilhas (Valerie a týden divů, 1970)
A imagem do Doninha já é o
bastante para colocar esse filme na lista, mas há mais motivos. Muitos, muitos
mais. (Leia o comentário a respeito de Santa
Sangre novamente).
Esta lista seria uma piada sem pelo menos um filme do David
Lynch. Não sabia qual escolher dentre os longas dele, então, meio que a esmo,
decidi que seria Veludo Azul o sorteado.
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Assim que terminei a lista acima, fiquei me perguntando por que eu não acrescentei nela "Josey Wales, o Fora da Lei" e "Mais Forte que a Vingança". Talvez seja porque eu goste do número 21. Mas aquela história de que as listas são sempre incompletas, isso é uma verdade inquestionável. Não é mesmo, Laranja Mecânica?
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Atualização: clique aqui para ler a lista com mais 15 dos melhores filmes de todos os tempos.
Atualização 2: clique aqui para ler a lista com mais 18 dos melhores filmes de todos os tempos.
Atualização 3: clique aqui para ler a lista com mais 13 dos melhores filmes de todos os tempos.
Bônus: os cinco filmes que mais me perturbaram.
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Assim que terminei a lista acima, fiquei me perguntando por que eu não acrescentei nela "Josey Wales, o Fora da Lei" e "Mais Forte que a Vingança". Talvez seja porque eu goste do número 21. Mas aquela história de que as listas são sempre incompletas, isso é uma verdade inquestionável. Não é mesmo, Laranja Mecânica?
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Atualização: clique aqui para ler a lista com mais 15 dos melhores filmes de todos os tempos.
Atualização 2: clique aqui para ler a lista com mais 18 dos melhores filmes de todos os tempos.
Atualização 3: clique aqui para ler a lista com mais 13 dos melhores filmes de todos os tempos.
Bônus: os cinco filmes que mais me perturbaram.
Braindead e Evil Dead tambem concordam que essa lista esta incompleta. E falando em Evil Dead o senhor Melvin poderia fazer, quando tiver um tempinho, uma crítica/resenha sobre o filme, não?
ResponderExcluirOpa, boa sugestão, Paulo! Acho que vou pegar para ver a refilmagem que fizeram do Evil Dead e faço uma comparação aqui! O que você acha?
ExcluirFaça isso, e diga se vale a pena assistir ou nao.
ExcluirJá ouvi falar muito bem desse "novo" Evil Dead. Parece que ele está mais sério e menos "brincalhão", sem aquele ar meio caricato que tem no segundo. Se isso é bom ou ruim, não sei dizer sem ver o filme, hahahaha.
ExcluirSerá que a mãe do Norman concorda com a lista?
ResponderExcluirAcho que sim, Ela é uma senhora pacífica que não faria a mal nem a uma mosca... Hehehehe :D
ExcluirEu acrescentaria ainda o filme "Onde os fracos não tem vez"
ResponderExcluirCom certeza! Como disse no começo do artigo (e brinquei no final, falando do Laranja Mecânica), sempre faltam filmes nas listas. A ideia dessa foi fugir um pouco daquelas listas repetitivas que sempre trazem Cidadão Kane, O Poderoso Chefão, Vertigo e A Regra do Jogo, como se o gosto pelo cinema dependesse de um manual prévio que todo cinéfilo deve seguir a risca.
ExcluirFarei um post sobre isso, em breve, com mais umas dicas de filmes :D