terça-feira, 7 de julho de 2015

OS DESAFIOS DE SER ESCRITOR – Segunda parte

PARTE 2 – Escrevendo
Dando continuidade à série de textos que venho publicando aqui no blog a respeito dos desafios que os escritores – em especial os escritores brasileiros contemporâneos – encontram ao longo de todos os processos necessários para a publicação e comercialização de suas obras, desde o primeiro rabisco em um rascunho qualquer até o relacionamento com críticos e leitores, trago para vocês mais uma parte bem legal da entrevista que dei para a editora a respeito do meu livro “A Caixa de Natasha e outras histórias de horror”, cujo lançamento ocorrerá no próximo sábado, dia 11/07, às 16 horas, na Livraria Curitiba do Shopping Catuaí, em Londrina-PR (estão todos convidados!!!).

Conforme prometi no último texto desta seção, as respostas abaixo contam um pouco sobre minhas influências literárias e sobre como me empenhei para conseguir concluir e publicar o livro.

Para não aborrecer o leitor, no entanto, não entrei em grandes detalhes no que diz respeito às partes “técnicas” do assunto (busca por uma editora, contratos editoriais, revisão dos textos, etc.), mas, se algum escritor quiser conhecer minha experiência para trocar opiniões e, conhecendo meus erros e acertos, evitar os vários problemas que podem aparecer no caminho para uma publicação séria e eficiente, basta entrar em contato comigo pelo facebook. Terei enorme prazer em conversar com meus colegas escritores e mesmo com os curiosos que só queiram conhecer um pouco mais dos "bastidores" desse intenso universo que é a literatura. A gente sempre aprende com o diálogo, e, por meio dele, todos saem ganhando.

Sem mais delongas, segue a entrevista:

Pergunta: Como surgiu a ideia do livro?

Resposta: Faz um bom tempo que venho escrevendo com uma frequência considerável (levando-se em conta que devo conciliar a escrita ficcional com estudos na faculdade e estágios profissionalizantes). De lá para cá, desde que percebi o prazer que sinto na criação literária, penso em publicar um livro. Considerei publicar antes, mas isso seria um grande erro, já que eu tinha pouco material para oferecer. Foi só quando consegui reunir páginas suficientes para um livro sólido, coeso e consistente, descartando os contos ruins e medianos que eu havia escrito durante os primeiros passos da aprendizagem, que decidi levar adiante a ideia de publicação.

Pergunta: Você escreve para qual público?

Resposta: Não penso exclusivamente no público quando me ponho a escrever. Escrevo pensando na qualidade literária e em meu próprio gosto, quando não no simples prazer de escrever, sem me limitar por quaisquer outras barreiras. No entanto, é inegável que o público-alvo de meu livro é composto pelos fãs de horror e por aqueles que buscam sensações novas e singulares, em especial para quem está à procura de emoções fortes de arrepiar os cabelos e tensões psicológicas de gelar a espinha. Meu livro, por motivos óbvios, só não é indicado para as crianças (risos).

Pergunta: Você se espelhou em alguma história real para criar seu livro?

Resposta: Graças a Deus, não! (Risos). Apesar do conteúdo macabro e violento de minhas histórias, detesto violência na “vida real”.

Pergunta: Qual é o seu livro preferido? Como é o processo de criação de um livro? Você ouve música? Tem um escritório? Tem alguma mania ou curiosidade?

Resposta: Não posso dizer que tenho um único livro preferido. Leio o máximo que posso e com grande variedade de gêneros e estilos, por prazer e para enriquecer minha própria escrita. Muitos de meus livros preferidos nem são de terror, como, por exemplo, “As Aventuras de Huckelberry Finn”, do Mark Twain, “Capitães da Areia”, do Jorge Amado, “Laranja Mecânica”, do Anthony Burgess, “Kill All Enemies”, do Melvin Burgess, e “Coração das Trevas”, do Joseph Conrad. No terror, admiro muito Dean Koontz, Stephen King, Poe, Lovecraft, Robert Bloch e William Peter Blatty. Comecei a ler Anne Rice recentemente e estou adorando. Também tenho uma grande admiração pelo Salman Rushidie.

Sobre o processo de criação de um livro, cada autor tem um perfil que lhe é peculiar, com rotinas, métodos e inspirações próprias, de modo que é impossível generalizar que “é assim, assim e assim” que se escreve um livro. Contudo, é certo que, para a criação de qualquer obra com um mínimo de qualidade, são necessários muito trabalho duro, paciência e disciplina. Aquela visão romanceada do senso comum de que os escritores criam suas obras em um ataque súbito e irresistível de uma inspiração quase divina, apesar de ter sua beleza e uma pequena dose de verdade, não coincide com a realidade. É como Picasso disse: “a inspiração existe, mas deve me encontrar trabalhando”. O processo de escrita envolve consultas a dicionários, estudo da gramática e de variados recursos linguísticos, revisão, paciência, mais revisão, humildade para saber encontrar e superar erros e vícios de linguagem, novas revisões, dentre tantas outras árduas tarefas – e isso deve coexistir com a força necessária para não desanimar ou abaixar a cabeça para editoras ruins, profissionais arrogantes que não te dão o mínimo de valor ou respeito, gente que desdenha de seu trabalho, limitações pessoais que devem ser superadas, um mercado literário pouco aberto a autores nacionais, dentre tantos outros obstáculos que aparecem constantemente na vida de um escritor.

Falando sobre mim especificamente, sinto como se cada conto ou poema meu tivesse vida própria e independente, cada um seguindo seu caminho para ganhar a luz à sua maneira excêntrica. Existem contos bem curtos que demorei meses para escrever e já houve casos de eu escrever histórias de mais de quinze páginas em cerca de dois ou três dias. Há contos que surgem de ideias oriundas de fragmentos de outros livros ou filmes; há aqueles que aparecem de alguma partícula de um sonho louco; outras ganham vida a partir de uma coincidência acidental da junção de dois ou mais pensamentos aparentemente banais... As fontes são inúmeras e inclassificáveis, mas o principal é ter um bom equilíbrio entre paciência e audácia para saber colocar tudo no papel de uma forma interessante, cativante, coesa e, de preferência, com inovações.

Também retiro muitas influências de músicas, mas raramente as ouço enquanto escrevo. A música tem uma força muito grande para criar imagens mentais e sensações incomuns que podem ser usadas em histórias, mas, no momento de escrever, gosto de me concentrar ao máximo apenas na escrita, para garantir o máximo de qualidade de que sou capaz, sem distrações. Ainda assim, posso dizer que meu processo habitual de escrita se assemelha muito com a criação de uma música, pois me preocupo mais com o ritmo e a velocidade do texto, bem como com as sensações que ele vai causar no leitor, do que com outros elementos da narrativa. Mas não deixo de prestar atenção em nenhum desses elementos, é claro.

Pergunta: Qual seu autor-referência?

Resposta: Os escritores que mais me influenciam, atualmente, são Stephen King, Edgar Allan Poe, H.P. Lovecraft e Dean Koontz. Mas extraio influências, ainda que relativamente menores, de muitos outros, como, por exemplo, Dostoiévsky, Anne Rice, Machado de Assis, Cruz e Sousa, Augusto dos Anjos, Sheridan LeFanu, Bram Stocker, Guy de Maupassant, Robert Bloch, Salman Hushdie e Will Self, dentre outros.

Pergunta: Se tiver que resumir o livro em poucas linhas, como faria?

Resposta: O livro é uma viagem de sensações e emoções extremas, intensas e extraordinárias por mundos igualmente arrebatadores de sonhos e pesadelos incomuns, entre sombras, sangue e mistérios.

E lembre-se: a única coisa mais aterrorizante do que as primeiras 273 páginas de A Caixa de Natasha são as últimas 100!

***

Para as próximas postagens na seção "Os desafios de ser escritor", pretendo reunir histórias curiosas sobre escritores famosos em relação a suas primeiras experiências na literatura.

Mantenha-se ligado no blog!

Nenhum comentário:

Postar um comentário