segunda-feira, 19 de setembro de 2016

CULTURA, ARTE, DOMINAÇÃO, PROGRAMAÇÃO NEUROLINGUÍSTICA e VIOLÊNCIA SIMBÓLICA

Uma expressão que me incomoda, quando se fala em cultura, arte ou mesmo entretenimento, é a palavra “alternativo”. Trata-se de mera bobeira paranoica da minha mente, por certo, mas me sinto internamente desconfortável quando alguém diz que determinado filme é “alternativo”, que certa música é “alternativa”, que tal livro é “alternativo”. Isso porque a palavra “alternativo” pressupõe a existência de um padrão (um parâmetro a ser seguido) e a de um caminho diferente, mas solitário, quase incomunicável: uma passagem estreita que é a única rota de fuga para os excluídos e marginalizados (e para os “diferentões”, é claro...). Quando não, revela um quê de arrogância e desdém por tudo aquilo que não se acomoda sob o rótulo genérico de “alternativo”, que é conceito essencialmente subjetivo e impreciso. E essa arrogância desdenhosa, por sua vez, atrapalha justamente no livre desenvolvimento das artes, no nascimento de novas formas de expressão, na gênese e na apreciação indiscriminada de culturas múltiplas, alternativas (no plural!). Falar em algo “alternativo” sugere uma divisão bipolar avessa à liberdade que as pessoas que gostam da arte dita “alternativa” alegam perseguir: guerreando às cegas contra o sistema, reforçamos o próprio sistema! (Somos grandes ingênuos neste mundo contra-intuitivo, não?).

Lembremo-nos sempre disto: em arte, os caminhos não são bifurcados: são plurifurcados! As veredas da imaginação são muitas, e os horizontes são vastos, vastíssimos (talvez até infinitos: tão ilimitados quanto são os pontos de vista, pelo menos). Cessemos, portanto, de reduzir tudo a chatíssimas dicotomias limitadoras que, embora de modo involuntário e relativamente bem intencionado, só reforçam o status quo, os preconceitos, os lugares-comuns, as vãs imposições comportamentais: tudo aquilo que nos aprisiona e nos sufoca.

Ah, mas a vaidade... Sempre a vaidade!
"Por que você está usando essa roupa estúpida de humano?"

5 comentários:


  1. Concordo com você. O meu pensamento é igual ao seu em relação à esse assunto. As artes tem o seu próprio caminho, não podemos limitar algo, que por natureza é ilimitado. Ilimitado não, é infinito, porém alguns seres humanos sempre querendo rotular coisas e coisas, sem ao menos entender o que de fato significa ARTE. Eu acho esse pensamento, simplesmente um absurdo. Não consigo enteder uma mente tão limitada e cega a ponto de não conseguir enxergar o óbvio. Forte abraço Gustavo!

    Marcas literárias

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    1. Um filme que trata bem sobre isso é o Birdman, Luciano. Já chegou a assistir? É uma obra-prima (e um tapa na cara de críticos que engavetam tudo nos estreitos limites de seus rótulos).

      A problemática se origina do fato de que a criação de rótulos advém da razão, enquanto a arte (como eu a compreendo) advém não apenas da razão, mas também da intuição, dos sentimentos, etc., que são muito maiores do que a razão.

      Devemos parar de julgar as obras pelo status que elas têm (filme blockbuster X filme cult, por exemplo). É como quando conhecemos uma pessoa nova: se ficarmos classificando-a por cor, raça, sexo, etc., nunca vamos conhecer a pessoa de verdade, em sua plenitude, mas apenas o estereótipo dela. Ao tocar uma alma humana, devemos ser humildes e buscar nos despir de preconceitos: só assim talvez consigamos nos entender e ter paz nessa pluralidade gigantesca que é o mundo.

      A busca pela Verdade exige sinceridade, sempre!

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  2. Apesar de tudo isso que falamos, eu não condeno quem usa as expressões "filmes alternativo", "música alternativa", etc. A divisão tem sua importância no final das contas (sobretudo no âmbito da comunicação). Fiz esse texto mais para provocar e para causar a reflexão mesmo. O assunto é polêmico e deve ser debatido!

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  3. Sou fã de filmes considerados B... e aqueles que Hollywood considera A são também considerados superiores, porém, Tarantino e Robert Rodriguez produzem filmaços milionários com estrelas, mas com aparência de filmes B porque gostam... e depois de sua declaração pelo gosto, seus filmes foram aceitos e são considerados grandes produções. Não sei se você quis dizer isso, mas meu ponto de vista é que ás vezes o que é A, B e alternativo, estão na nossa própria forma de interpretar e ver a arte...

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    1. Excelente lembrança, Jana! Tarantino é um ótimo ponto de partida para repensarmos nossos preconceitos inconscientes quando falamos de arte e entretenimento.

      Tarantino é B? É alternativo? É cult? É blockbuster? É arte? Não sei, mas os filmes dele são bons pra caramba e transcendem rótulos: parecem não estar nem aí para os rótulos, na verdade! Como você mesma sugeriu, ele colocou um astro do porte do Brad Pitt em uma produção que, apesar de grande, é cheia do espírito dos nazisploitations e de filmes-bagaceiras de todo tipo. Em Os Oito Odiados, colocou um galã como o Channing Tatum em um papel que... bem, quem assistiu ao filme sabe do que eu estou falando. Não vou dar spoilers aqui, hahahahaha.

      E veja só: foi só depois do sucesso crescente dos filmes do Tarantino que algumas pessoas (críticos e intelectuais, em especial) passaram a dar algum valor para "filmes b" como os spaghetti westerns, os filmes de kung-fu asiáticos, os terrores trashs, entre tantos outros!

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