No cinema de terror, um dos subgêneros de que mais gosto são os chamados filmes gialli (plural de giallo). Esse subgênero, iniciado na década de 60 por Mario Bava e aperfeiçoado nos anos seguintes por Dario Argento, aborda histórias de assassinos em série cuja identidade o espectador desconhece durante toda a trama, vindo a receber a revelação, quase sempre muito surpreendente, apenas no final do filme.
O termo "giallo", que significa "amarelo", em Italiano, refere-se à cor das capas das revistas pulp publicadas na Itália desde o início da década de 30, as quais eram especializadas em literatura policial e de mistério e que representaram significativas influências para o surgimento de filmes como Prelúdio para Matar (Profondo Rosso, 1975) e Seis Mulheres para o Assassino (Sei Donne per L'Assassino, 1964).
As principais características distintivas dos filmes gialli são: o assassino oculto de quem vemos apenas partes (suas mãos com luvas pretas empunhando uma navalha de lâmina brilhante, por exemplo), mas nunca sabemos quem ele é antes do final; as mortes chocantes e bastante gráficas, especialmente de belas mulheres, filmadas de maneira a misturar sadismo e brutalidade com beleza de grande refinamento; as trilhas sonoras diferenciadas, marcantes e impactantes, que mantêm um clima de tensão e mistério constante; o erotismo acentuado, mas sem exageros; as iluminações atmosféricas, sombrias e coloridas, que fazem parte de fotografias muito bem trabalhadas; movimentos e jogos de câmera engenhosamente arquitetados e em sinistra harmonia com a trilha sonora (tudo isso com inspirações diretas do cinema de Alfred Hitchcock).
Dario Argento, o principal realizador dos filmes gialli e um dos cineastas que eu mais admiro. |
Há poucos meses, descobri um curta-metragem espantosamente bom que foi feito em homenagem a esse subgênero de filme e cujo título é, exatamente, "Giallo". O filme em questão foi gravado em 2010, por Antoine Waked, com um orçamento extremamente reduzido (apenas 800 dólares – o que equivale a apenas um pouco mais do que o valor de uma filmadora razoavelmente boa). Apesar do baixo orçamento, o filme é uma verdadeira aula de cinema e uma prova de que, com criatividade e boa vontade, as severas limitações enfrentadas pelos cineastas independentes podem ser contornadas com soluções muito elegantes, o que faz surgir pérolas de brilho notável, como é o caso desse curta-metragem de Antoine Waked. Segundo a crítica de Michael Mackenzie no site "The Digital Fix", "Giallo é uma conquista fantástica, um thriller visualmente impressionante e de trama consistente que, sem dúvida alguma, pode ficar no mesmo patamar dos filmes a que ele se destina a prestar homenagem".
Infelizmente, por se tratar de um filme pouco conhecido, não consegui encontrá-lo legendado em português, mas apenas em inglês (o áudio original é em francês). No entanto, é possível acompanhar a trama mesmo com um inglês entre o básico e o intermediário, pois o filme é bastante gráfico e os diálogos não são complexos.
Assista ao filme completo (sinopse abaixo):
Sinopse: Após viver vários anos em Paris, Marc Dalmas volta a Lebanon para visitar sua irmã, mas, quando chega à cidade, ele a encontra morta. Na mesma noite, Marc testemunha outro assassinato e, decepcionado com o trabalho da polícia, decide encontrar sozinho o assassino.
***
Como sugestão para se conhecer mais do maravilhoso mundo dos gialli, indico os seguintes filmes:
– Prelúdio para Matar (Profondo Rosso, 1975), dirigido por Dario Argento: possivelmente o melhor giallo de todos os tempos, ou mesmo o melhor filme de todos os tempos. Já mencionei essa obra-prima antes, aqui no blog, nesta lista;
– Olhos Diabólicos (La Ragazza che Sapeva Troppo, 1963), dirigido por Mario Bava: considerado o primeiro giallo por muitos especialistas em cinema italiano;
– O Pássaro das Plumas de Cristal (L'Uccello dalle Piume di Cristallo, 1970), dirigido por Dario Argento: primeiro e magnífico giallo de Dario Argento, com todos os principais elementos do gênero e inúmeras características que viriam a ser exploradas em seus filmes subsequentes;
– A Tarântula do Ventre Negro (La Tarantola dal Ventre Nero, 1971), dirigido por Paolo Cavara: excelente filme com bastante erotismo, história misteriosa e envolvente, trilha sonora excepcional do gênio Ennio Morricone e muitas qualidades mais. Um dos gialli mais competentes que conheço;
– A Casa com Janelas Sorridentes (La Casa delle Finestre che Ridono, 1976), dirigido por Pupi Avati: não é exatamente um giallo, mas possui semelhanças com o subgênero. Trata-se de um filme extremamente peculiar e que você nunca vai esquecer depois de assistir. Bizarro e esquisito são bons adjetivos para descrever o filme (cujo próprio título já é uma boa demonstração de bizarrice e esquisitice);
– Seis Mulheres para o Assassino (Sei Donne Per L'Assassino, 1964), dirigido por Mario Bava: considerado por muitos como um dos melhores filmes do mestre do terror italiano Mario Bava, esse é um dos filmes mais importantes na construção dos elementos estilísticos dos gialli.
Nenhum comentário:
Postar um comentário