segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Giallo – Um excelente curta-metragem em homenagem aos filmes de suspense italianos

No cinema de terror, um dos subgêneros de que mais gosto são os chamados filmes gialli (plural de giallo). Esse subgênero, iniciado na década de 60 por Mario Bava e aperfeiçoado nos anos seguintes por Dario Argento, aborda histórias de assassinos em série cuja identidade o espectador desconhece durante toda a trama, vindo a receber a revelação, quase sempre muito surpreendente, apenas no final do filme.

O termo "giallo", que significa "amarelo", em Italiano, refere-se à cor das capas das revistas pulp publicadas na Itália desde o início da década de 30, as quais eram especializadas em literatura policial e de mistério e que representaram significativas influências para o surgimento de filmes como Prelúdio para Matar (Profondo Rosso, 1975) e Seis Mulheres para o Assassino (Sei Donne per L'Assassino, 1964).

As principais características distintivas dos filmes gialli são: o assassino oculto de quem vemos apenas partes (suas mãos com luvas pretas empunhando uma navalha de lâmina brilhante, por exemplo), mas nunca sabemos quem ele é antes do final; as mortes chocantes e bastante gráficas, especialmente de belas mulheres, filmadas de maneira a misturar sadismo e brutalidade com beleza de grande refinamento; as trilhas sonoras diferenciadas, marcantes e impactantes, que mantêm um clima de tensão e mistério constante; o erotismo acentuado, mas sem exageros; as iluminações atmosféricas, sombrias e coloridas, que fazem parte de fotografias muito bem trabalhadas; movimentos e jogos de câmera engenhosamente arquitetados e em sinistra harmonia com a trilha sonora (tudo isso com inspirações diretas do cinema de Alfred Hitchcock).
Dario Argento, o principal realizador dos filmes gialli e um dos cineastas que eu mais admiro.
Há poucos meses, descobri um curta-metragem espantosamente bom que foi feito em homenagem a esse subgênero de filme e cujo título é, exatamente, "Giallo". O filme em questão foi gravado em 2010, por Antoine Waked, com um orçamento extremamente reduzido (apenas 800 dólare o que equivale a apenas um pouco mais do que o valor de uma filmadora razoavelmente boa). Apesar do baixo orçamento, o filme é uma verdadeira aula de cinema e uma prova de que, com criatividade e boa vontade, as severas limitações enfrentadas pelos cineastas independentes podem ser contornadas com soluções muito elegantes, o que faz surgir pérolas de brilho notável, como é o caso desse curta-metragem de Antoine Waked. Segundo a crítica de Michael Mackenzie no site "The Digital Fix", "Giallo é uma conquista fantástica, um thriller visualmente impressionante e de trama consistente que, sem dúvida alguma, pode ficar no mesmo patamar dos filmes a que ele se destina a prestar homenagem".

Infelizmente, por se tratar de um filme pouco conhecido, não consegui encontrá-lo legendado em português, mas apenas em inglês (o áudio original é em francês). No entanto, é possível acompanhar a trama mesmo com um inglês entre o básico e o intermediário, pois o filme é bastante gráfico e os diálogos não são complexos.

Assista ao filme completo (sinopse abaixo):

Sinopse: Após viver vários anos em Paris, Marc Dalmas volta a Lebanon para visitar sua irmã, mas, quando chega à cidade, ele a encontra morta. Na mesma noite, Marc testemunha outro assassinato e, decepcionado com o trabalho da polícia, decide encontrar sozinho o assassino.
***
Como sugestão para se conhecer mais do maravilhoso mundo dos gialli, indico os seguintes filmes:
– Prelúdio para Matar (Profondo Rosso, 1975), dirigido por Dario Argento: possivelmente o melhor giallo de todos os tempos, ou mesmo o melhor filme de todos os tempos. Já mencionei essa obra-prima antes, aqui no blog, nesta lista;
– Olhos Diabólicos (La Ragazza che Sapeva Troppo, 1963), dirigido por Mario Bava: considerado o primeiro giallo por muitos especialistas em cinema italiano;
– O Pássaro das Plumas de Cristal (L'Uccello dalle Piume di Cristallo, 1970), dirigido por Dario Argento: primeiro e magnífico giallo de Dario Argento, com todos os principais elementos do gênero e inúmeras características que viriam a ser exploradas em seus filmes subsequentes;
 A Tarântula do Ventre Negro (La Tarantola dal Ventre Nero, 1971), dirigido por Paolo Cavara: excelente filme com bastante erotismo, história misteriosa e envolvente, trilha sonora excepcional do gênio Ennio Morricone e muitas qualidades mais. Um dos gialli mais competentes que conheço;
 A Casa com Janelas Sorridentes (La Casa delle Finestre che Ridono, 1976), dirigido por Pupi Avati: não é exatamente um giallo, mas possui semelhanças com o subgênero. Trata-se de um filme extremamente peculiar e que você nunca vai esquecer depois de assistir. Bizarro e esquisito são bons adjetivos para descrever o filme (cujo próprio título já é uma boa demonstração de bizarrice e esquisitice);
 Seis Mulheres para o Assassino (Sei Donne Per L'Assassino, 1964), dirigido por Mario Bava: considerado por muitos como um dos melhores filmes do mestre do terror italiano Mario Bava, esse é um dos filmes mais importantes na construção dos elementos estilísticos dos gialli.

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