terça-feira, 13 de outubro de 2015

Os 10 mandamentos de uma boa tradução, por Millôr Fernandes

Nas últimas semanas, eu trouxe aqui no blog as traduções que fiz de um conto e de um poema do Edgar Allan Poe, bem como duas matérias com algumas considerações a respeito do trabalho de tradução de obras literárias: trabalho ao qual não costumamos prestar muita atenção no dia a dia, mas que tem influência decisiva na vida de qualquer leitor. Por uma dessas adoráveis coincidências que poderiam ser chamadas de destino, não acreditasse eu em um certo condicionamento inconsciente de busca e atenção por assuntos nos quais estamos interessados (se bem que isso não elimina completamente a possibilidade de uma Providência Misteriosa), deparei-me recentemente, na capa de trás de um livro que encontrei muito por acaso na livraria, com uma interessantíssima lista com "os 10 mandamentos para uma boa tradução". A lista, que é praticamente uma síntese criativa de tudo o que foi dito nas duas matérias mencionadas (as quais podem ser lidas aqui e aqui), é de autoria de Millôr Fernandes e está na capa traseira do livro "Shakespeare traduzido por Millôr Fernandes", da L&PM Editores.
Segue a lista, ipsis litteris:

"Fica dito – não se pode traduzir sem...

1. ter uma filosofia a respeito do assunto;

2. ter o mais absoluto respeito pelo original;

3. o atrevimento ocasional de desrespeitar a letra do original exatamente para lhe captar melhor o espírito;

4. o mais amplo conhecimento da língua traduzida;

5. acima de tudo, sem o fácil domínio da língua para a qual se traduz;

6. cultura;

7. e, também, contraditoriamente, não se pode traduzir quando se é um erudito, profissional utilíssimo pelas informações que nos presta – que seria de nós sem os eruditos em Shakespeare? –, mas cuja tendência fatal é empalhar a borboleta;

8. intuição;

9. ser escritor, com estilo próprio, originalidade sua, senso profissional;

10. Não se pode traduzir sem dignidade."
***
Pretendo publicar por aqui mais algumas traduções de contos e poemas inéditos em língua portuguesa (já estou começando a trabalhar em uma adaptação entre-línguas de uma assustadora história curta do Dean Koontz). Por enquanto, caso você ainda não tenha se deparado com elas nas páginas obscuras desse estranho blog, recomendo a leitura de minhas traduções de "The Lighthouse" – o conto inacabado de Edgar Allan Poe – e do poema "Eldorado", do mesmo perturbado mestre absoluto do terror. Basta clicar nos links em vermelho para ter acesso às traduções (críticas, sugestões e comentários sobre elas são sempre bem-vindos).

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